Por
Helena Frenzel
Minha avó contava que lá em Fufu Lalau,
quando se desejava que uma visita fosse embora, o costume era colocar uma
vassoura virada ao contrário atrás da porta. E funcionava mais rápido ainda se
fosse posta atrás da porta principal. Outro dia, passeando por uma rua perto de
casa, vi uma vassoura virada ao contrário ao lado da porta de entrada de uma
casa, e fiquei me perguntando se o fiofó tinha algo com as calças e ao ver a
dona da casa trabalhando na porta, preparando as janelas com enfeites para o
Natal, só não perguntei o significado da vassoura virada de cabo para baixo com
medo dela não entender uma curiosidade tal. A vassoura está assim já há vários
dias, vai ver é parte da decoração.
Encucada com a razão da ‘invertida’, chamei a Samara Bassi e ela me
respondeu: “É vero! Sempre soube que vassoura atrás
da porta é para fazer visita ir embora. Bom, acho que ela quis juntar a
comemoração de Natal com a anterior: o Haloween”.
Ao que Ailton Augusto acrescentou:
“História interessante essa, mas desconfio que a vizinha realmente não
entenderia tal curiosidade. Só para constar, tem outra "receitinha"
para espantar as visitas, muito mais discreta aliás: dê um nó em um pano de
prato e jogue dentro do forno (desligado, obviamente). “ E dessa do pano de
prato, pergunto-me se o nó teria de ser cego ou especial e o porquê do
forno - não serviria o refrigerador? – e o que ocorreria se ao invés de
um nó só, déssemos dois, bem apertados?
Então chegou a Tania Orsi Vargas com uma
receita literária: “Um dos meus cunhados tinha se mudado para a capital e
recebia muitas visitas interesseiras que vinham do interior. Ele descobriu uma
forma muito eficaz de espantar os chatos. Pegava o volumaço de A Montanha
Mágica, que acho que é do Thomas Mann, e dizia ao outro, abrindo em
qualquer parte: “escuta como isso é interessante” e se botava a ler
tranquilamente. O chato não demorava a se mexer e dar o fora.”
“Boa!”, estava eu pensando nesta
história quando Miriam de Sales completou: “Aqui na Bahia também é assim: com a vassoura; mas o sal no fogo é imbatível”. Mas foi Alice Gomes quem fez a
pergunta nuclear: “Quem será que inventou essa da vassoura, hein? Quando era
pequena também ouvia isso.” E trouxe outra receita: “E espetar um garfo atrás
da porta também.“
“Espetar um garfo atrás da porta?”,
pensei comigo, “Mas nem toda porta se pode espetar, não é mesmo?” “Jogar sal no
fogo... humm, vou experimentar!” Então veio Lu Narbot tirar-me do intento quase
maligno e trouxe-me à razão: “Minha mãe também contava esta história da
vassoura. Infelizmente não funciona, ela bem que tentou com um cara chatíssimo
que, em pé à porta, dizia que estava indo embora e começava a contar um caso
novo!“.
“Olha, isso funciona mesmo. Sério.”, retrucou Ana Bailune, Omar Carmona confirmou e a comadre Michele também. E quando eu já estava pensando em dar nó no causo e deixar a vassoura pra lá, Tania Orsi Vargas pronunciou-se outra vez: “Mas eu lembrei de uma coisa... que a maneira de GUARDAR a vassoura para não entortar as cerdas ou a palha é virando-as para cima. Deve ser por isso que a tal senhora a mantém sempre assim. Então, gurias, isso eu também aprendi: após usar a vassoura guardá-la de cabo para baixo. Há umas que já vêm com um gancho para pendurar, pelo mesmo motivo.”
“Olha, isso funciona mesmo. Sério.”, retrucou Ana Bailune, Omar Carmona confirmou e a comadre Michele também. E quando eu já estava pensando em dar nó no causo e deixar a vassoura pra lá, Tania Orsi Vargas pronunciou-se outra vez: “Mas eu lembrei de uma coisa... que a maneira de GUARDAR a vassoura para não entortar as cerdas ou a palha é virando-as para cima. Deve ser por isso que a tal senhora a mantém sempre assim. Então, gurias, isso eu também aprendi: após usar a vassoura guardá-la de cabo para baixo. Há umas que já vêm com um gancho para pendurar, pelo mesmo motivo.”
E daí eu disse: “Sim, Tania, as pessoas
guardam as vassouras desse modo, mas geralmente no quintal ou dentro de casa.
Acho que a teoria da decoração do Dia das Bruxas é mais provável, ou quem sabe,
ela esqueceu. Um dia tomo coragem e pergunto, o mistério da vassoura virada de
cabo para baixo e ao lado da porta de entrada há de se resolver!“
E resolveu-se mesmo, pois um dia
perguntei não à mulher, mas ao marido: “E essa vassoura, o que faz aí?” “Ah, é
minha sogra de visita!”, foi esta a resposta que ele me deu. A vassoura tem
tripla função, eis o segredo.
Pois é, viajar de vassoura, além de
ecológico, é uma ótima forma de economizar combustível, não?
* * *
Espero que tenham gostado do causo
cronicado que a vassoura deu.
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Helena, ficou excelente e divertidíssimo, com todas estas opiniões e receitas para espantar chatos. Como, em casa, a vassoura nunca funcionou, acho que vou adotar a receita literária. Deve ser a que mais funciona, especialmente aqui no Brasil, onde leitura não é bem o forte das pessoas. Um detalhe: parece-me que você é curiosa como eu. Abraços
ResponderExcluirOi, Helena. Pior que funciona mesmo! Já testei várias vezes, e aprovei.
ResponderExcluirHelena, essa história de espantar chatos dão um bom causo! Sei de outra receita - infalível - colocar atrás da porta uma tesoura aberta com as pontas para baixo... Já fiz na casa de minha mãe, e além de espantar a visita inconveniente, levei um baita xingão! Viu como funciona??? hahahahha Beijos querida!
ResponderExcluirQue delicia esse conto. causo. essas tradições são muito ricas. nada mal espantar visita mal desejada. rs
ResponderExcluirAbraço.
Essa bela porcaria de texto cheio de omissões de artigos, erros ortográficos (de ela / dela), etc., quem quererá copiar ou distribuir sem autorização? Passo.
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