Por Dolce Vita
A primeira lembrança? O som da porta
que se fechou. Eu estava sozinho num quarto pouco iluminado. Nenhuma mobília,
além de um pequeno banco. O ar circulava por uma fresta, na minúscula
janela quase colada ao teto. Tive medo de sufocar. Porta trancada,
sem chaves. Lá fora tudo era silêncio. Não adiantaria continuar gritando por
ajuda. Não sei quanto tempo esperei, andando em círculos, até que o susto
cortou minha angústia. Começava a escorrer água pela parede. Antes de tocar o chão, toda aquela água vertida
transformava-se no som das palavras. Para meu completo assombro, era o som da
minha própria voz. Por um brevíssimo momento, diante do absurdo, tive vontade
de rir. As palavras haviam me
sequestrado. E me prenderam ali para uma espécie de prestação de contas por
tudo que calara ao longo da vida. Não sobrou um só segredo
represado. A água virara palavra. E todas as minhas verdades escorreram pela
parede. Ouvi o lamento dos sonhos que não realizei. Depois veio a ira de
desejos frustrados e a ladainha do ressentimento. Confrontado por todos os meus
fracassos, não passava de um rascunho mal feito. Eu era uma fraude de mim
mesmo. E, dessa vez, não haveria mais como fugir.
Muito obrigada, Dolce, por participar outra vez com seus interessantes minis aqui em nosso blog. Volte sempre!
Helena e Michele.
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Quanta reflexão teu conto nos traz, Dolce! Vivenciei a situação... rsrs! Grande abraço, guria.
ResponderExcluirObrigada, Giustina, por sua presença também aqui. Volte sempre!
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