Por Michele Calliari Marchese
Joana era uma daquelas mulheres extremamente
apaixonadas pelos prazeres que a carne oferece. Namoradeira que só ela, dizia
que o meretrício era para as putas e condenava a cobrança de tão caro prazer.
Não se apaixonava nunca pelo homem que aparecia, mas pela carne que se
apresentava, viril, quente. A cada um recebia de uma forma diferente, conforme
ela via a personalidade do homem que se apresentava, ela se vestia ora de modo
jovial, ora clássico, ora arrebatador. Cuidava da aparência com desvelo e suas
mãos eram as que recebiam cuidados redobrados, suas unhas eram pintadas de rosa
— uma discrição que se concedia — para acariciar seus homens prazerosamente.
Recebia-os em sua casa, cujo endereço ela distribuía aos quatro ventos, e até
mesmo muitos homens que ela nem conhecia e tampouco havia encontrado em algum
momento já sabiam onde ela morava. Mesmo sendo uma casa pequena, a decoração
era de todos os gostos, todos se sentiam bem por lá.
Mas acontece que chegou um daqueles dias que
ninguém espera e que estarrece com o hálito quente e doce as diabruras do amor.
Djalma chegou com o mormaço do verão, numa tarde
de suor, tocou a campainha da casa errada — a dela — para procurar um cliente
de sua empresa. Não escondeu a admiração por curvas tão voluptuosas, e aceitou
de pronto aquele convite insano para entrar.
Djalma tornou-se frequentador
assíduo da casa.
Joana tornou-se escrava daqueles momentos e não aceitou mais
nenhum encontro.
Mas acontece que chegou um daqueles dias que
ninguém espera e aquele grande amor, que afoga a garganta de tão louco e
intenso, abandona os abraços nus, deixa de lado os quadris e mata o sentimento
de posse. Djalma se foi.
Joana não podia conceber a possibilidade de que
as tardes quentes de mormaço mole estariam vazias, assim como suas carnes que
não teriam o gosto do sal do amor urgente com Djalma. Ficou doente do amor
abandonado e escorraçado, ligou, ligou e exigiu a presença do amante com
pressa, com a urgência para um último adeus, o adeus da cama, dos beijos, do
orgasmo e da calma do depois.
Djalma foi com a canalhice dos amantes que
cansam de suas presas e entediado esperando os soluços chorosos da mulher
descartada.
* * *
Quem ligou para a polícia foi uma vizinha — a
manicure — que estranhou o silêncio de Joana e as faltas masculinas da casa.
Estranhou o fato de que Joana pediu para que ela pintasse suas unhas de
vermelho porque o homem de sua vida viria para ficar. Depois aquele cheiro putrefato
que exalava do terreno vizinho.
Num sábado chuvoso de muito frio, a polícia e os
bombeiros encontraram o corpo de um homem enterrado superficialmente no
terreno. Estava irreconhecível. Na casa, Joana jazia nua em sua cama, as mãos
cruzadas escondendo os seios e mostrando o vermelho vivo de suas unhas na carne
branca e pálida da morte.
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Conto espetacular, muito bem conduzido e com um desenrolar estarrecedor, pela criação do inusitado final. Gostei muito.
ResponderExcluirUm abraço, Para Helena e para Michelle.
Celêdian
Oi Celêdian!!! Obrigada pelas palavras! A única coisa que me deu dó, foi a perda da horta... que culpa tinham as alfaces?? hahahahhaha Venha sempre ler a gente! beijos
ResponderExcluirParabens pela trama amorosa aqui com um desfecho triste para estes casos onde a posse supera o amor.Gosto da construção que nos fazx visualizar,isto é arte.
ResponderExcluirGostei deste espaço e sigo.
Parabens a voces pela qualidade dos dois textos lidos,que me fará voltar.
Já está nos meus favoritos.
Meu abraço.