Por Suzana Barbi
suzanabarbi@hotmail.com
Equilibrar a energia do corpo com a energia da
mente.
Era tudo que ela precisava.
Aquela história de ficar horas em frente ao
computador, pendurada no telefone e sempre correndo como uma biruta maluca,
para cumprir os prazos da vida, não estava funcionando mais para ela.
Precisava fazer alguma coisa.
Descobriu o caminho quando encontrou com o
gordinho do escritório na cantina, claro, e ele lhe confessou:
— Minha mulher reclamou a vida inteira do meu
ronco. Resolvi fazer Ioga. Depois disso, descobri que tenho nariz!
Foi direto para o Google pesquisar sobre o
assunto.
“Pessoas
que sofrem de dores crônicas apresentam melhoras e necessitam de menos remédios
analgésicos à medida que praticam a Ioga”.
Estava fechado!
Com a Ioga sua dor na coluna iria pro saco.
No dia seguinte, matriculou-se na dita cuja.
De roupa apropriada, especialmente comprada, lá
foi ela para sua aula inaugural.
Mais quatro pessoas faziam parte do seleto
grupo, que aprenderia respirar, ter postura e mandar as dores pras cucuias.
Assentada com as pernas cruzadas em posição de
lótus, ela iniciou o processo do “innnnsssspiiiiraaaaa”....
“exxxxppppiiiiiraaaaa”.....
Nos dois primeiros “inspira-expira” a posição de
lótus já parecia posição de cactus.
Sua coluna começou a arder.
Abriu os olhos, olhou para os lados, viu todos
compenetrados na respiração e pensou:
— O inferno é mais suave...
Hora de deitar e relaxar.
Ufa! De volta ao paraíso!
Uma música calma inundou (junto com o incenso) o
ambiente.
— Agora vamos relaxar. — O professor dizia com
voz baixa.
— Tentem relaxar a cabeça, movendo-a para os
lados, bem devagar. Agora, os ombros, os braços, as mãos, o tronco, as pernas.
Ela foi ficando dormente.
E com sono.
— Concentrem-se, agora, no couro cabeludo.
Couro cabeludo?
Como é que vou concentrar no meu couro cabeludo?
— Inspirem bem devagar e expirem, relaxando os
pulmões.
O sono voltou.
— Relaxem o coração, o estômago, o pâncreas...
Pâncreas?
Onde é que fica isso?
Ela abre apenas um olho e olha sorrateira para
seu colega ao lado.
Precisava saber se ele conseguia “relaxar o
pâncreas”.
Ele dormia profundamente com a boca aberta, sem
a menor noção de ter ou não ter pâncreas.
No segundo dia, achou o professor tenso.
Estranho para pessoa que lhe parecia tão calma.
Entraram novamente em relaxamento e, devidamente
conhecedora de onde se encontrava seu pâncreas, inspirou e expirou em paz.
Não demorou muito a escutar o primeiro ronco.
Saiu bruscamente do seu estado de quase
dormência com o grito do professor:
— Por favor, tentem se manter acordados,
porra!!!
O professor também tinha lá seus problemas...
No terceiro dia, conheceram “a invertida”.
Posição em que as pernas ficam no lugar onde a
cabeça deveria estar.
— Muita concentração, — pedia o professor. —
Deixem o pensamento passar como nuvens. Não se prendam a ele.
Suspensa apenas pelas mãos, ela pensou nos
pagamentos que tinha para fazer no dia.
Caiu de cara no chão.
Chamaram o SAMU.
Ela foi com as dívidas e com o ombro deslocado
para o Pronto Socorro.
Não desanimou.
Voltou.
Para o júbilo de todos, inclusive do professor.
Ao tentar fazer novamente “a invertida”, chutou
a cara de um e caiu com os dois pés em cima de lugar “bem sensível”, digamos
assim, do colega ao lado, que perdeu o fôlego, ficou roxo e por fim gritou
cinco minutos seguidos.
O professor perdeu a calma, pegou-a pelo braço e
gritou:
— Você já rezou hoje???
Saiu dali arrasada.
Entrou num bar e pediu um cavalinho.
Acabou tomando o haras inteiro.
Ioga, para ela, não era tão suave como parecia.
Ia tentar o alpinismo.
Nota da autora: uma homenagem às minhas queridas
sobrinhas, Luciana e Júlia.
Querida Suzana, gratas por sua bem-humorada participação em nosso blog. É uma alegria ter você aqui, volte sempre!
Helena e Michele.
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Suzana, que saudade da sua verve cômica! Um super beijo a você e à Helena, que te cedeu este espaço pra nosso deleite.
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