Por Osmar Pedro Calliari*
Esse causo
aconteceu na Campina da Cascavel, deveras distante de tudo, poderia dizer que é
um Universo único, dada a quantidade de causos sem explicação e misteriosos que
acontecem por essas bandas.
Aconteceu bem no
dia da Festa do Padroeiro. Estava todo o povo da Campina em frente à Igreja
armando as mesas e cadeiras para o almoço e as tendas para as festividades,
quando o Belliaris chegou.
Chegou atravessando
uma serração dos diabos, montado num cavalo crioulo e trazendo na garupa um saco
com seus parcos pertences, pois tinha vindo para ficar. Tinha sabido em
Cruzeiro do Sul que a Campina estava em desenvolvimento precisando de homens de
coragem para alavancar a comunidade.
Só sentia saudades
de sua namorada Gênesi, que deixou para trás “por um motivo justo”, como disse
ao Padre Dimas naquele dia. Mas que voltaria a buscá-la assim que pudesse e
casariam bem direitinho, como manda o figurino.
O povo ficou
alerta, pois acontecem tantas coisas inexplicáveis na Campina, mas logo se
acostumou com a presença do jovem caixeiro viajante, trabalhador, ambicioso e
idealista.
Justamente naquela
época tinha sido construído o primeiro Hotel da comunidade e Belliaris tratou
logo de se instalar por ali, tendo um quarto efetivo em que mantinha seu “escritório”.
Saía em viagens pela semana inteira e só voltava aos sábados.
Num desses sábados,
Belliaris estava tomando chimarrão com alguns conhecidos quando apareceu um senhor
com aparência de andarilho e carregando às costas os seus pertences.
Inopinadamente chamou Belliaris e lhe comunicou, muito confiante, que precisava
de algum dinheiro para comprar mantimentos, pois estava indo para as bandas do
Rio Xapecó, onde, tinha a certeza de haver muito ouro e em boa quantidade. Em
troca da ajuda, oferecia metade de todo ouro que encontrasse e ainda disse seu
nome: “Adolf, senhor”.
Sem uma palavra,
Belliaris emprestou o dinheiro.
Essa atitude
provocou divertidas gozações entre os amigos que tiveram assunto por muito
tempo.
A vida continuou, o
namoro continuou as viagens também.
Acontece que
repentinamente, e sem aviso, o caixeiro desapareceu, deixando suas coisas no
Hotel, como também suas diárias 'impagas',
para desespero dos proprietários.
Passados uns seis
meses, quando o povo estava quase se esquecendo do acontecido com o Belliaris e
tão repentinamente como desapareceu, eis que ressurge, pilotando uma camionete
Dodge, americana, 4 por 4, novinha em folha.
Para a alegria dos
hoteleiros, pagou todas suas contas atrasadas com juros, deu uma bela gorjeta
para a garçonete, pagou adiantado uma rodada de uísque para seus velhos amigos
e anunciou que estava deixando a Campina da Cascavel, pois havia comprado uma
fazenda de café no norte do Paraná, e era para lá que estava indo.
Dentro da camionete
estava a Gênesi, casada, com um feliz sorriso nos lábios, emoldurado pela sua
basta cabeleira quase ruiva.
“E o andarilho?”, perguntaram seus amigos.
“O andarilho é meu
sócio”, disse Belliaris dando a partida na camionete.
*Este e os demais contos da série "Histórias para sempre lembrar"
foram escritos por Osmar Pedro Calliari, pai da nossa querida Michele Calliari
Marchese. Ele partiu ainda muito cedo, deixando um vazio que jamais poderá ser
preenchido. Publicar aqui alguns dos textos que ele deixou escritos é uma forma
de homenageá-lo e tê-lo sempre presente, porque enquanto houver memória haverá
vida, História e histórias para contar.
© 2017 Blog Sem Vergonha de Contar - Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do(a) autor(a).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caro(a) Leitor(a), comentários são responsabilidade do(a) comentarista e serão respondidos no local em que foram postados. Adotamos esta política para melhor gerenciar informações. Grata pela compreensão, muito grata por seu comentário. Um abraço fraterno, volte sempre!