quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Cozinhando galo...

Por Helena Frenzel

O que significa cozinhar galo? Juro que não sei! 

Quem jura mente, bem sabemos, mas cozinhar galo, no entanto, é uma expressão que me leva de volta à minha boa infância lá no Maranhão, e esta é a única coisa que sei com certeza a respeito desta frase: onde eu costumava ouvir e usá-la. 

Sempre que eu enrolava para fazer um determinado serviço, lá surgia minha tia com esta expressão: "Está cozinhando galo, menina?" Eu não entendia direito o que ela queria dizer com aquilo, mas estranhamente eu começava a me apressar e o serviço terminava saindo.

Que galináceos inspirem a preguiça nas pessoas... bem, isso é algo difícil de se crer, ainda mais porque esses bichos dormem e acordam com o Sol, enquanto tem gente que gasta o dia na cama ou balançando na rede (real) se entupindo de tudo o que encontra nas redes sociais. Mas atrasar uma tarefa e demorar a efetuar o que lhe foi pedido... bem, o que isto teria a ver com os galináceos? Estou por descobrir. E por isso este textículo*, e não se esqueça de aqui pronunciar o "x" como em "táxi", para evitar ambigüidades (risos).

Ao usar esta expressão me peguei pensando se cozinhar galo é mesmo uma tarefa árdua. Não me parece ser, porque cozinhar (de fato) é a tarefa do fogo, o problema da pessoa é preparar o galo para cozer. Nem disto posso falar com propriedade porque nunca cozinhei um, não no sentido literal, e hoje em dia, com essa onda de veganismo, é pouco provável que eu tenha que cozinhar um galo ou uma galinha algum dia, mas se eu tiver que fazê-lo ainda lembro bem de como se faz, graças a quem me ensinou a sobreviver sem latas e congelados.

Mas será mesmo verdade que a carne do galo requer mais tempo para cozer do que a da galinha? Por quê? Teria o galo um outro tipo de carne? Bem, "um outro tipo de carne" talvez não, mas quem sabe músculos mais "treinados"... E se a questão for só o "treinamento", será que se as galinhas começassem a levantar peso as diferenças desapareceriam? Ou será que no caso do galo e da galinha não se pensa em gênero e construção, fica-se apenas na biologia? Ou será que nós é que não sabemos nada sobre a sociedade desses bichos e seus problemas porque não nos interessamos em estudar a fundo seus comportamentos? Bem, são muitas questões... Algumas bobas; outras, nem tanto. Releve!

Imagino que alguém já deve ter feito algum estudo quando recordo aquele filme Chicken Run, sobre galos, galinhas e seres humanos. Recomendo-o aliás, muito bom! Eu poderia ainda tentar entrevistar criadores de galináceos, mas essas pessoas estão cada vez mais raras em nosso mundo ultra super digital rápido, um mundo em que nos supermercados só se encontra congelados ou pó-Zinhos para o micro-ondas e as crianças se assustam (de verdade) ao verem soltos seja um galo, uma galinha ou um porco, que já viraram animais de zoológicos e por lá vivem trancafiados catando o milho dos visitantes.

Há dúvidas ainda quanto ao sentido mas estou segura de que não estou cozinhando galo ao pensar e escrever sobre isto. Aliás, eu NUNCA cozinho galo quando sento para escrever, pois cozinhar galo me parece algo improdutivo, um ócio desperdiçado… E escrever, para mim, é tudo menos isso: desperdício. Cozinhar galo seria então, resumindo, sinônimo de matar o tempo, enrolar e protelar (agora falaste bonito!). 

Parece que também é uma expressão que surgiu no futebol, no jogo do bicho ou nas rinhas de galo, mas aí já não sei, pois não manjo de nenhuma delas. É provável que exista também em Portugal e em outros países lusófonos este cozinhar galo na rede, salgado de mar e secado ao sol equatorial dos trópicos. Taí, ao invés do galo cozido poderíamos ter também, a exemplo da carne-de-sol, o galo-de-sol, ambos com hífens. Mas por aqui paro!






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