quarta-feira, 26 de outubro de 2016

E a palavra é...

Co- ti- di- a-no

Aprendendo outras línguas o normal é que o aprendiz, a um certo ponto, comece a misturar os idiomas. Foi o meu caso com co-ti-di-a-no, que em italiano se escreve com "quo", assim: quo-ti-di-a-no e se pronuncia cuo-ti-di-a-no, porque em italiano sempre se pronuncia o "u" no "qu", entende? Não tenha medo do som das palavras, brinque! Aliás, não tenha medo das palavras. Medo, se você tiver que ter, tenha de quem as usa de forma má ou leviana, pois que de "boas" intenções… hum-hum-hum… o inferno está cheio! Porém, o melhor mesmo é que você não tenha medo algum, nem preconceitos lingüísticos!

Maior ainda fica a mistura quando o aprendiz, falante nativo de uma língua como o  português, por exemplo, começa a aprender simultaneamente italiano e espanhol, igualmente vindas do latim. Em espanhol também se diz co-ti-di-a-no, mas a pronúncia é distinta no "ti" e no "ano", com o "a" mais aberto do que se costuma fazer no Brasil, em certas regiões,  e o "ti" menos africado, ou seja: um "ti" com mais ar entre dentes e menos língua no céu - da boca, menino, não vamos confundir! - E sim, é preciso SIM destacar português brasileiro, porque no português angolano ou no português português os "cotidianos" são os mesmos, porém outros. A única coisa que sei é que todas as variantes lingüísticas são belas e distintas, e viva a diversidade! 

Sim, mas que carga tem esse co-ti-di-a-no, essa coisa "que se hace o sucede cada dia", como se define em espanhol, es decir: o diário, o costume, o habitual, "o que é comum a todos os dias", o que é banal, diurnal, cociente ou quociente, de quotiens, quantas tantas vezes, "conjunto das ações praticadas todos os dias e que constituem uma rotina", o dia a dia, que em alguns lugares ainda segue com hífens no quotidiano, com "ku", que em italiano também é sinônimo de diário e de jornal, que em espanhol é periódico, aquelas folhas que alguns ainda leem pe-ri-o-di-ca-men-te, seja impresso em papel-jornal ou na forma de bytes bordados e exibidos num leitor digital, mas leem. E são pouquíssimos, eu acho.

Diariamente vou seguindo minha vida, brincando com as palavras sejam elas substantivos -como em "o cotidiano"- ou adjetivos -como em "a luta cotidiana" e "o respeito cotidiano", que cada dia que passa se tornam coisas mais raras (para não perder o fio e a  oportunidade, claro!).

Mas, consultando um dicionário alemão-português / português-alemão descobri que em Portugal também se usa a grafia quo-ti-di-a-no, que se pronuncia como a forma usada no Brasil e na Espanha, sem o "ku", ou seja: engole-se o "u" e cospe-se o "ko" de cotidianíssimamente, forma que aliás nem sei se existe nos anais gramaticais, mas existe porque acabei de escrevê-la - prova cabal de sua existência!

E para finalizar essa nota, "cotidiano", com "ku", com "ko" ou sem "qu", em alemão significa "täglich" ou "alltäglich", cuja pronúncia não é nada comum para um falante de brasileiro, que é como se chama a variante do português falado no Brasil. Portanto, por aqui fico com as fonéticas questões do "alltäglich".

Pois é, e se falar já é difícil, imagine escrever… 

Cotidianamente!


Por Helena Frenzel



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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O sonambulismo


Por Michele Calliari Marchese

Como todo mundo sabe, o sonambulismo é um pequeno distúrbio do sono e acomete o vivente de vez em quando. Existem pessoas que nunca terão o privilégio de sonambular por aí, encontrando portas trancadas a chave, tendo essas mesmas chaves escondidas em algum lugar recôndito. Quem sonambula não espera que as chaves estejam escondidas, mesmo porque precisam de caminho livre para andar e fazer o que se precisa fazer durante esses incríveis episódios em que o corpo está ativo e a mente, inativa. 
O Ismael e a Jussara se conheceram numa loja enquanto pagavam suas respectivas contas. Era uma terça-feira. Se fosse na sexta-feira seguinte nunca teriam se conhecido e também acho muito difícil que tivessem se casado –como se casaram– dois anos depois, envolvidos pelo amor e pelo sonambulismo em comum e tudo porque a atendente perguntou por perguntar o motivo de o dedo mindinho da Jussara estar com uma tala de palitos de picolé envolto em esparadrapos. 
A Jussara contou sem meias palavras que devido a um sonambulismo ocasional havia tirado seu aparelho de silicone (aquele que evita o ranger dos dentes durante a noite) e não sabia onde tinha colocado; no cabo de uma semana procurando encontrou-o entre o estrado e o colchão, escondido. E o dedo acabou quebrando quando entalou de mau jeito no estrado para pegar o aparelho. Era isso. O Ismael que ouvira tudo atentamente brilhou os olhos e cutucou o ombro da Jussara para dizer-lhe num sussurro que também era sonâmbulo. Aquele sussurro arrebatador, pensou ela, era a coisa mais linda que escutara em sua vida; “sou sonâmbulo”; e essas palavras ficaram impregnadas na lembrança de sua vida. “Sou sonâmbulo” teve um significado maior que a compra que fizera há um mês e olhou com enlevo aquele sonâmbulo em pé atrás de si, segurando o carnê da loja com uma das mãos e a outra mantinha junto da perna; que garboso, pensou e pensou em inúmeras coisas e assuntos sonambulísticos que teriam daquele momento em diante e aguardou que a atendente lhe devolvesse o troco.
Disse tchau levantando a mão cujo dedinho seguia hirsuto e o Ismael pagou a conta rapidamente para poder conversar com aquela mulher tão igual a si, tão perfeita pensou, não que os sonâmbulos fossem perfeitos, mas nunca encontrara alguém com quem pudesse partilhar as longas histórias noturnas e poderia, quem sabe, ver no futuro como se comportaria no lugar dela e vice-versa. Seria uma bela experiência de vida e alcançou Jussara na calçada e disse que não se preocupasse com esse tipo de acidente ocasionado pelo sonambulismo e ela respondeu que não foi durante o sonambulismo que quebrara o dedo mindinho, mas sim acordada e ele mencionou aquela vez, muito tempo atrás quando o Cometa Halley poderia ser visto a olho nu da Terra e que seu pai o agarrou pelo pijama, pois estava com um pé na janela do terceiro andar e só depois de desperto lembrou que passara o dia pensando em ver o tal cometa e que sonhara com ele durante a noite e sonâmbulo tratou de ver pela janela o cometa Halley. Riram os dois, que perigo, pensou ela, cair de uma altura assim considerável era a morte certa, porém o Ismael contou que a sua falecida bisavó havia ensinado à sua avó e, por conseguinte à sua mãe, que não se pode acordar um sonâmbulo pelo motivo de ele ficar mudo e nunca mais na vida conseguiria falar e que sonâmbulos não se machucam. Tudo isso era uma grande crendice cultural, mas que de qualquer forma informou à Jussara que a família inteira sofria de sonambulismo senão não haveria motivo da bisavó ensinar tais coisas.
Ficou feliz e na felicidade daquele assunto interminável na calçada ela pediu o nome dele e disse-lhe seu nome e combinaram de se encontrar no fim daquela semana na sorveteria que tinha ali perto, às oito.
Dentre as muitas façanhas contadas diariamente, ela a ele e vice versa, foi que ele descobriu que ela tivera espinhas no rosto e passava Minâncora antes de dormir na crendice da fala da vó que dizia que as espinhas secavam com o dito creme, porém o máximo que conseguiu foi assustar o namorado da sua irmã, num dos muitos ataques de sonambulismo com o rosto inteiro coberto de Minâncora, assustando-o e fazendo-o prolongar o namoro por mais algum tempo antes de saber por sogro e sogra que a cunhada sofria dos males noturnos.
Ela, porém descobriu que ele tinha pendores catastróficos e que subira no peito do irmão –dormindo– para salvá-lo dos troncos de árvores que caiam em cima da casa sem telhado. Depois que foi despertado pelo irmão apavorado foi que descobriu que tinha o coração acelerado e estava de pé em cima do corpo do irmão inerte e assustado pelas atitudes sonambulísticas daquele sonâmbulo sem precedentes. Adorava uma catástrofe, daquelas que ninguém quer ver nem sentir, assim como ela. Será que todo sonâmbulo gosta de hecatombes naturais? Perguntaram um ao outro, quase juntos, e viram de relance que a vida a dois era o certo e decidiram se casar sem responder àquela questão primeira. 

Viveram felizes, revezando os dias para esconder as chaves das portas e o Ismael colocou tela nas janelas para a feliz esperança da chegada dos filhos, vislumbrada pelos sogros. E hoje brigam quando contam quem foi que sonambulou na lua de mel, cada um quer para si o título de primeiro da casa.


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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Senhor, quem é Fudile?


Por Michele C. Marchese

Primeiramente quero esclarecer que esse título foi devidamente plagiado da amiga Alessandra W. Outros esclarecimentos seguem no final do texto. 
“Senhor, quem é Fudile?” é uma pergunta que só o Senhor poderá responder, bem como aquela outra pergunta feita há meses: “O que é Fudile?” Como ninguém respondeu, obviamente creio que ninguém sabe, porém tenho mil conjecturas, milhares de suposições e zilhares de teorias conspiratórias que me renderiam meses de terapia intensiva e diária com minhas amigas psicólogas e sempre de plantão, Andréia M. e Letícia D.
Jamais colocaria tudo o que me passa na cabeça, pois o espaço é ínfimo e cansaria a leitura, deveras. Apenas menciono algumas para economizar o tempo do Senhor em explicar o inexplicável.
Vamos para a conjectura: Fudile é uma variante de Fuzile, já que naquela época eram épocas de dentes de leite que caiam ou eram arrancados por alguma mãe inescrupulosa e então não havia a possibilidade de falar corretamente a letra z, trocando-a por d. A palavra Fuzile é derivada de fuzilar. Éramos sabidos naqueles tempos. Creio que um deles, Alessandro Z., meteu o pé na bola e o ato foi considerado pelos outros como um “fuzilar”, sendo o gol marcado sem eira nem beira e o goleiro a procurar pela bola. Ou, o próprio goleador ficou se gabando “viram que fuzil? Viram que fuzil?” e os outros a menear a cabeça – do tipo tá se achando – logo lhe botaram o apelido. Então o hoje Fudile era o Fuzile em bocas sem dentes do passado.
Agora a suposição: Suponhamos que em épocas remotíssimas da nossa saudosa infância, os meninos (só os meninos) falavam alguns, hã, palavrões. Nada muito sério, porém sempre falados à boca pequena, à surdina, em cochicho. Na hora do recreio, foram Pinto, Nico, Dala, Patinho, Patão e alguns que ainda não tinham apelido comprar a rosca feita pela Dona Vilma; a rosca caiu numa pocinha indecifrável, aquele um pegou, esfregou o açúcar molhado na camisa e deu uma mordida causando asco nos demais. Esses demais não demoraram em falar alguns palavrões do tipo “que f**a”, você é um fu********” e tudo num cochicho de arrepiar, dando tapas em seu ombro, como a dizer cospe fora, cospe fora. Como ele não cuspiu, ficou um apelido meio palavrão, meio não palavrão, mas isso é segredo.
Vamos à teoria conspiratória e da qual creio ser a mais verossímil. Num lindo dia de verão (sempre tem que ter uma pieguice antes do horror) enquanto os meninos jogavam bola na quadra e as meninas estudavam a tabuada, sentadas lindamente e delicadamente nos bancos do colégio (e longe da quadra), eis que o céu torna-se escuro e com nuvens densas a assustar o próprio tempo.  
Um vento efêmero chamou a atenção dos meninos que jogavam e todos olharam para cima com algum receio de que a partida tivesse fim antes mesmo de começar; foi então que uma luz muito forte rasgou o céu na vertical cegando-os temporariamente e um objeto não identificado de pequeno porte e que, pensando hoje, acho que deveria ser uma daquelas naves filhotes, sendo que a nave mãe deveria ser tão grande que escapava à visão, pousou placidamente no meio do campo. O barulho infernal daquele motor não deixava que eles se mexessem, mesmo sendo corajosos, e uma porta se abriu. Um ser indescritível de cor mais indescritível ainda avançou pela porta e fez um sinal com a mão para que eles se aproximassem e eles tentaram pedir socorro, porém estavam dentro de um campo gravitacional e invisível e quem estava de fora não os via e participavam ainda do lindo dia de verão, enquanto meus queridos amigos se viam em apuros numa bolha transcendental, não tendo nem o irmão Daniel a lhes prestar socorro. 
Pois começaram a discutir qual deles iria ter com aquele visitante extraterrestre querendo comunicar-se com muito provavelmente o líder daquele grupo desdentado. Empurraram-se repetidamente quando o Romeu T. disse que iria (para grande alívio de todos), mas quando chegou perto da porta um vento gélido o fez ter uma crise de asma e sequer pode dizer “oi”. O extraterrestre mostrava claros sinais de irritação e uma portinhola lateral se abriu e um grande cano saiu espalhando fumaça verde limão e aquela visão apavorou tanto que o grupo foi andando para trás e o mais embasbacado com a situação ficou na frente. Era agora ou nunca. Tinha brio ou não tinha? Para a sorte mundial nosso heroico colega disse o que ouvira em filmes de ficção - “vim em paz” - e fez o sinal do mestre Jedi - que a força esteja com você -, e tremia tanto que não conseguia piscar e não suava porque o vento gélido agora estava amontoando uma grossa camada de geada sob os seus pés. O ET cumprimentou-o e falou muito e sanou todas as dúvidas filosofais e sobre a criação do universo, contou também sobre a vida em paralelo, onde temos outro de nós mesmos em algum lugar remoto do futuro e do passado e disse o nome de sua gente: “Fudile”.
Como ninguém ouviu a conversa por causa do barulho inclemente dos motores todo mundo acreditou e apelidou-o assim por causa de que após a conversa, a portinhola se fechou, o extraterrestre lhe abanou e o mundo se salvou. Como houve uma falha temporal aquelas horas não existiram para os outros e eles puderam finalmente continuar a partida, não sem antes colocarem as japonas para aquecerem-se daquele frio dos infernos.
É isso.

Esclarecimentos finais: Não pude citar todos os nomes dos colegas, mas creiam-me todos estavam lá na hora que a nave pousou. 




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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A vida por um chocolate


Por Michele Calliari Marchese

Já devorei uma caixa de bis e tenho no colo uma barra de meio quilo de chocolate. Resolvi escrever para resistir à tentação de abrir a lâmina prateada com relevos do mais fino chocolate suíço. Têm alguns desenhos de favos de mel, amêndoas e imaginando a gostosura me perco nos pensamentos mais existenciais possíveis. Eu posso comer essa gostosura e minha avó, podia?
Creio que os chocolates de outrora além de caros eram inacessíveis nesses rincões de Deus dará; creio que quando chegavam eram dados sem pestanejar às crianças e bebês para que soubessem o que é bom na vida, para que se apercebessem que por trás do suor da lida existe o doce que nos faz fechar os olhos de satisfação e suspirar longamente como se fosse a hora derradeira.
Por falar em hora derradeira gostaria que me colocassem nas mãos cruzadas uma meia dúzia de chocolates crocantes ou o que acharem melhor; nada de rosários e flores; mas não misturemos assuntos, o caso é extremamente pessoal.
E a pauta é a seguinte: Como é que conseguimos comer tanto chocolate na TPM sem remorsos e sem farelos, sem pensar nas que nos precederam? Impossível. Isso faz parte da mulher: chocolate e existencialismo.
Chocolate porque é chocolate, não precisa de explicação, porém o existencialismo é a coisa mais profunda e mais real naquele período mensal. Eu, por exemplo, como chocolate e fico pensando naquelas que tinham vontade de comer alguma coisa e não sabiam o quê! Isso é o pior! Não sabiam o que queriam para satisfazer aquele vazio no peito, nas glândulas salivares e do êxtase supremo em ver a lixeira cheia de pacotes vazios.
Como eu. Devo estar precisando de mais uns cinco quilos para a completude divina, mas e as outras? E as outras? Não é cinismo, é altruísmo. Imaginemo-nos sentadas em algum tapete felpudo comendo chocolates de todos os tipos, menos os com recheio de licor (nada contra quem gosta), dando as mãos, acendendo incensos, chorando as amarguras inconsoláveis das outras e nos empanturrando de chocolate e mais chocolate. Deitaremos no chão para ver as estrelas e conversaremos sobre coisas do tipo “como nasceu o universo” para então ouvir daquela sabidinha vestida de blusa preta que faz mal comer de barriga para cima e então notaremos que nós todas vestimos preto naquele dia como numa comemoração de irmãs radicadas nessa cidade sombria sob muitos aspectos, porém iluminada pelos seus cidadãos e a frase ficou tão bonita que aquela outra “mana” de preto também resolveu comprar mais chocolate para celebrarmos a vida xanxerense.
Penso que a despedida seria caótica: “sua blusa é linda, onde comprou?” e não teríamos papéis para anotar tantos nomes, telefones e locais fornecedores de utilidades da tensão pré menstruástica; alguma “irmã” riria sem parar da quantidade de segredos que ouviu e não falou nenhum, outra choraria porque perdeu o celular com as fotos do namorado que ela bem gostaria de rasgar, porém não podia porque não sabia como fazê-lo sem imprimir as fotos. Outra pedia por um espelho, não poderia sair na rua sem maquiagem depois de todas aquelas lágrimas, esqueceríamos imediatamente o nascimento do universo e todas as suas nuances cor de rosa piamente defendida por uma das irmãs de Xavantina e também não poderíamos sair de nosso tapete felpudo sem ouvir as fofocas do centro de Faxinal dos Cabritos.
A de cabelo curto vestida com uma calça preta sugeriu que “nada melhor que um chocolatinho quente” para ouvir os comentários elucidativos daquela irmã –de preto também– que diria que há estudos científicos que comprovam que o chocolate ajuda a manter o Mal de Alzheimer longe daquelas cabeças férteis e lindas. Uma companheira riu do “lindas”, porém as outras deixaram para lá, afinal, pensaremos, somos bonitas à nossa maneira e do nosso jeito, porém acredito que a irmandade iria para o fundo do poço no segundo mês de encontro. Talvez não sobrasse tanto dinheiro assim para alimentar tantas bocas necessitadas de cacau; mesmo que cada uma levasse a quantia certa para o consumo tem sempre aquela que come mais porque o desespero é maior. Choremos!

É isso. A crônica chegou ao fim e com ela aquele lindíssimo chocolate que estava dormitando no colo. Não era para comer, era para escrever. Desculpe, mas não há resistência alguma das injustiças do existencialismo humano que me façam guardar, mesmo que numa gaveta bem pertinho de mim, aquela barra de meio quilo de chocolate com favos de mel e amêndoas. Nem minha vó.


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