quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Nós e a Campina, a Campina e nós



Por Helena Frenzel


Parece que foi ontem, ontem mesmo, quando tivemos notícias do sumiço da Ritinha. Pra ser mais exata, foi no dia 20 de agosto de 2012, há quatro anos. A Ritinha, se você não sabe, sumiu depois de ter passado uma noite dançando com um moço bonito em plena Quaresma. É que confundiram as datas numa troca e extravio de cartas, uma confusão do demo! Deus que me perdoe, melhor nem falar no catingoso, pois vai que acontece comigo o mesmo que se deu com o Laudemir, que encontrou pelo caminho um féretro fantasma. Credo em cruz!

E passado esse susto me refresquei sabendo do caso da Dona Lucia, a morta "quente" que o Barbeiro e o Padre Dimas… Ah, esses dois!, que também andaram investigando as misteriosas badaladas que assombraram a Campina da Cascavel. Mas agora já sabemos que a Lucia foi o amor de muitos e, pelo visto, não foi de ninguém. E ao longo desses quatro anos tivemos a felicidade de ir vendo nascer e crescer tantas histórias e personagens como o Tio Antero com seu ouro no rio, os infartados Alcides, Angelin e Romeu, por quem ainda hoje a Dona Isabelita chora, e chora de se contorcer. 

Neste meio tempo vimos nascer e crescer também nosso jornal, e foram oito números, oito números especiais com contos da Campina, contos de Fufu Lalau e textos de convidados. Quem sabe um dia… Ai, meu Padin Cisso, quem sabe um dia eu consiga continuar com o jornal… Vontade não falta, mas tempo... 

Sim, mas voltemos à Campina: tantos dilúvios, sumiços, chuvas de sapos,  pragas de piolhos, ET’s amantes de milho, mulheres resolutas e maridos abandonados. E o bígamo? O bígamo naufragado… Dona Silvia fez muito bem! E eis que à boca pequena ficamos sabendo do encontro que a Dona Maria teve e fez de tudo para esconder, mas na Campina nada se esconde, até o capim fala! 

E foi também quando soubemos do Firmino e de sua previsão para o fim do mundo. É que os Maias haviam dito (assim contaram) que a Terra iria para as cucuias em 2012. Já estávamos em 2013 e nada do mundo se acabar, como já estamos em 2016 e… Bem, melhor nem falar, já que tem uns ditadores lá pela Ásia louquinhos para transformarem o planeta numa nuvem de pó só, o que já fomos todos um dia aliás… 

E 2013 seguiu na Campina com a procissão dos vivos e um tapete de Corpus Christi especialmente para saudar o bispo, e que bispo! Cruz credo! Dizem as más línguas que era um bispo que já estava morto há mais de cem anos. Será? Há fotos que comprovam. Seguimos o ano com outro desaparecimento misterioso: dessa vez o da Dona Lurdes, e o marido que nunca se consolou. E foi quando o Amâncio presenciou uma reunião de caboclos, todos rebeldes e mortos em pelejas do passado. Aí eu me encrespei e vi outros personagens chegaram:  Olavo e o Compadre Rui, mostrando que é na bodega que nasce um bom causo. E como nasce! A Dona Edite, casada com o tal do Victor Hugo, um causo mais que cabeludo! Hisurto! Tô pra ver! 

Daí eu soube do causo do Cristóvão e de suas alucinações. Tinha a ver com as rosas que o Coronel Eusébio conservava da Dona Adelaide, e o caso é tão sensível e insólito que não posso reproduzir sem me emocionar, você tem que ler sozinho ou sozinha, com esses olhos que a Terra há de "jantar", como aquele que a Isabel preparou esperando pelo noivo e aquele da família pioneira, que revelou o genro preferido da "mamma" e o segredo do seu tempero excepcional. E muitos jantares mais se seguiram, picantes revelações! Mas quase me mordi de medo foi ao lembrar do causo do homem misterioso que sempre aparecia na casa que um dia foi do Angelin, aquele jagunço… 

Mas o grande mistério do nosso blog está na história da Mariana e do Antônio, daquela noite de núpcias que, estranhamente, é um dos textos mais acessados de todo o blog. Juro que me mordo de curiosidade pra saber o motivo. Tenho uma hipótese, e ela tem a ver com nome do site. Acho que as pessoas acessam pensando achar um tipo de "sem vergonhice", e quando descobrem que "perder a vergonha" não tem nada de "safado", aí já é tarde!… Bom, se elas voltam a nos visitar, disso eu não sei, só sei que somos gratas por todas as visualizações! E que ao longo desses 4 anos já passaram das 31.514!

Emocionante é a história do velhinho que esquece de muitas coisas, mas não esquece do que viu nas guerras. E não podemos esquecer do Licurgo, aquele eterno jovem ancião, o mais enxuto do mundo! Vimos outros desesperados, como a Neusa e seu marido, e o primeiro delegado viver e morrer. E se não fosse o primeiro delegado, o Ubaldo teria até matado aquele sujeito que "amassou" a sua filha no sofá, a que se tornou mãe do Angelin. Ah, o Angelin, aquele jagunço...   

A Campina é um lugar em que aparece de tudo, até mesmo uns espertos comerciantes, e foi por aí que o Tabelião abriu o olho com o Humberto e a Lizandra, que se foram felizes contando a dinheirama. E foi quando o Nino quase matou o Padre Dimas, que só não morreu porque… bom, não era chegada ainda a sua hora, como descobrimos depois, e ele sobreviveu a todas as tentativas, ainda porque as gentes só morrem na hora que têm mesmo que morrer e isso vale também para gentes-personagens.

E as visitas das almas penadas nunca deixaram de ocorrer, como daquela vez que a Emma, uma morta, voltou pra pedir ao Padre Dimas uma missa de sétimo dia não sei pra quem que também já havia passado. Credo em cruz! E com a morte do Tarcisio fomos saber como o delegado, o primeiro, tomou em quartas núpcias a Dona Celina e então tivemos um dia festivo: 28 de outubro de 2013 saiu o primeiro volume dos contos e causos da Campina em e-book.

Outros personagens inesquecíveis são a Asdvencia Emilia, uma benzedeira e tanto, sábia por demais. Daí teve o causo da malhação do Judas, que foi a última daquela vez, não fosse a ação do delegado antigo, que ainda não era o Jurandir. Foi quando se soube do Coveiro e da despedida do Sargento. E também de Benvindo de Pato Branco, que saiu pra comprar cigarros e … nos deu a idéia pra um novo e-book

Fechamos então 2013 com o natal do Coronel Vitorio e o sumiço do Papai Noel. Começa novo ano e conhecemos Juvenal e Iracema, Coronel Passos Maia, o Aldir e seu bugreiro, o Inácio e Dona Luísa, e o livro misterioso, a carta da Alana, que em tempos de guerra trouxe o Mello para casa. O causo do cavaleiro, que a Dona Jovilde e o seu Alencar viram chegando, foi quando setembro sumiu. A morte do delegado e a vinda do comissário do governo, que pouco durou na Campina. A Karina e o Leandro, e o copo premonitório. E o marido da Salete, outro que desapareceu. 

A esta altura Frei Leonardo já havia chegado e o Tabelião entrou na cidade com o primeiro automóvel da Campina. Ainda deu tempo para o Wilson e seu compadre divorciado e para o triste caboclo João nos contarem das suas, e houve espaço para a ironia com as cartas do Percival e outras donzelas. Mais um causo de Quaresma, só que agora com o Adriano e das coisas estranhas, como o que aconteceu no casamento do Osório com a Donana.

Se, para mim, um número mágico é o 15, para o povo da Campina deve ser o 16… e o que acontece nos dias com este número está por aqui, tudo registrado!

Das aventuras do delegado Jurandir, o novo delegado, desse eu nem conto, pois daí todos já sabemos o que aconteceu, e tudo está nos diários do Padre Dimas, que Frei Leonardo leu e releu.

Fato é que foram quatro anos na companhia de histórias e personagens vivos e interessantes. E teve de tudo: riso, informação, choro, assombro, chegadas e despedidas. E por todo esse tempo e personagens escrevi este texto para agradecer à minha querida comadre Michele a parceria e a generosidade de compartilhar estes „causos“ também neste espaço. 

Parabéns, comadre Michele! Parabéns, Campina da Cascavel!
Se tivesse sido planejado, nada teria dado certo, nem teria sido tão bom.

E que venham novos causos, contos, crônicas e coisas do tipo! Sigamos então!





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2 comentários:

  1. Tantos "causos", tanta beleza de Helena! Parabéns "causers"!

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    1. Obrigada, Marcio Buriti, pela atenta leitura e pelo gentil comentário. O mérito é todo da Michele. Os causos da Campina são obra da imaginação e fantasia dela. Aliás, sem a comadre Michele não teríamos nem metade da beleza deste espaço! Super obrigada por prestigiar nosso espaço para contos, causos. :-)

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