terça-feira, 30 de setembro de 2014

As flores de plástico não morrem

Por Meriam Lazaro

O tempo quando quer, corre mais que coelho. Não era o caso agora, em que lhe faltavam horas, dias, meses e os ponteiros permaneciam parados. Na antessala, imaginava o paraíso. Lis seria o seu nome!... Ganharia canção de ninar trazida por um pássaro. A ave negra abriria as asas se transformando em uma esfera azul dançante. Como quem invoca a proteção dos quatro elementos, a ave soltaria cada trinado mais belo que o outro, atraindo as bênçãos celestiais: fecundidade, elegância, pureza! Depois viriam as ninfas do velho arroio dilúvio para acrescentar: beleza, atração, perfume! Que mais poderia querer uma futura e orgulhosa mãezinha? E não é que houve a intromissão dos seres da floresta que exigiram pagamento em troca daquelas qualidades?! Para gozar de fecundidade e beleza, sua pequena Lis deveria passar pela dor; em nome da elegância e atração lhe seria exigido sacrifício; pela pureza e perfume teria que lidar com a incerteza do destino. Quem iria querer ver a luz de um mundo assim? Antes que o espírito do fogo se manifestasse, decidiu apelar:  Vocês, que vieram do início da evolução do homem, poderiam anular a dor, o sacrifício e a incerteza profetizados pelos gnomos? Labaredas do tamanho de uma árvore se manifestaram:  Sim. Mas para não sofrer há somente um meio, se você concordar.  Faço qualquer coisa! Atalhou a mulher, já sem dor alguma. Com estrondo de trovão, a Salamandra bradou:  Digo-lhe então que sua flor não morrerá jamais! A eternidade se precipitou... No hospital, o médico recomendou à enfermeira que despertasse a paciente da anestesia. Antes da volta para casa, seus pais haviam se desfeito do berço, enxoval, brinquedos e tudo mais que pudesse despertar na filha a tristeza pelos sonhos perdidos. Esquecido num canto do teto, um móbile zombava desse cuidado. Feito de plástico, pequenas flores-de-lis giravam e giravam embaladas pela canção dos Titãs: “A dor vai fechar esses cortes. Flores. Flores. As flores de plástico não morrem”.




Nota: Assumimos que este texto se trata de ficção, ou seja: não se refere a pessoas e fatos do mundo real nem emite sobre eles juízo ou opinião. Ele nos foi enviado para publicação pelo(a) próprio(a) autor(a), sendo aqui reproduzido conforme o original recebido. É de autoria e inteira responsabilidade do(a) autor(a), que detém sobre o mesmo todos os direitos autorais. Este texto não representa, necessariamente, a opinião das editoras e de outros autores deste site.

© 2014 Blog Sem Vergonha de Contar - Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão da autora.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Desaparecimento do Marido da Salete


Por Michele Calliari Marchese

A Salete e a família estavam voltando de um final de semana nos parentes do interior. Estavam na metade do caminho quando escureceu de repente e assustadoramente. Acreditavam que não chegariam à casa a tempo de não se molharem naquela chuva que ameaçava cair a qualquer momento.
Raios estrondosos, e trovões mais ainda, deixaram todos pesarosos e atentos na estrada. Ficou noite e nada mais foi visto a um palmo do nariz. O marido da Salete teve que parar os cavalos e todos eles procuraram algum lugar onde se abrigar daquele temporal medonho. O menor dos filhos ficou com frio e começou a chorar, pois que todos estavam silenciosos e muito duros em seus bancos. A Salete providenciou uma roupa para aquele que chorava e tirou uma coberta para protegerem-se, mesmo que parcamente, da água que não tardaria em cair.
O marido achou uma árvore perto da estrada e para lá se dirigiu, a Salete meteu a coberta por cima da cabeça dos filhos e começou a rezar e a benzer a tormenta, mas sem sucesso. Raios e trovões estouravam perto da carroça e nenhuma gota de chuva caiu.
Foi quando o filho mais velho viu uma luz mais adiante. E o pai tratou de levar todos em direção daquilo, pois que poderia ser uma casa, ou algum comércio. Quanto mais andavam, mais distante a luz ficava. Não esmoreceram, foram em frente, fora da estrada, mato adentro.
Andaram bastante, pois que de carroça era impossível penetrar mato tão denso e cheio de árvores. Não conseguiram saber e muito menos localizar onde estavam. Iam com a confiança no marido da Salete, que tudo sabia e de nada tinha medo. Os filhos enrolados naquele cobertor, que mais tarde serviu somente para atrasá-los na dura empreitada que tinham até chegar naquela luz.
Aconteceu que a luz começou a ficar mais próxima e conseguiram distinguir que ela estava num nível elevado do chão, de modo que não poderia ser casa nem comércio e era muito afastado da estrada. Ficaram atentos e parados, viram que não era uma luz qualquer, era uma bola de fogo.
Aquela visagem ardia em chamas e tinha o tamanho de uma bola de capotão, dessas de jogar futebol, e estava parada e parecia apontar para o chão abaixo dela.
O susto foi tão grande que não conseguiam dar nenhum passo, nem para frente e nem para trás. Baixaram-se, como a protegerem-se de algo que nunca viram em suas vidas. Estavam abraçados e logo uma comoção fez com que os filhos chorassem desesperados, esperando alguma atitude daquele pai tão corajoso.
O marido teve um vislumbre – que nunca soube dizer se foi de coragem ou de curiosidade – em sua cabeça e foi ver o que era aquilo, e a Salete, agarrada nos filhos disse que tomasse cuidado, que esperaria ele voltar e então, esconder-se-iam em algum lugar por ali. Que era para ele marcar o caminho para não perder-se deles, pois que naquele breu, não os veria debaixo do cobertor.
Ele foi. Foi com um galho de árvore arrastando em seus pés para marcar o caminho e não pensava em nada, somente naquela bola de fogo e de como acalmaria os filhos na sua volta. Fez várias vezes o sinal da cruz em todo o seu corpo e ficou olhando para aquela coisa chamejante, brilhante e que lhe cegava os olhos cansados pela escuridão. Não hesitou em falar, mas o som de sua voz apenas assustou-o ainda mais.
Havia um silêncio fora do normal ao seu redor, era como se tudo tivesse parado, podia ouvir as árvores rangendo com o vento, porém, ali, debaixo daquela luminosidade toda não existia nada, nem capim, nem pedras, nem terra naquele chão duro e frio e ele não soube discernir se o que vivia naquele momento era um sonho ou se era realidade, mas uma realidade diferente daquela a que estava acostumado.
Viu aos seus pés uma grande arca de tesouro. Havia tanta riqueza que se ajoelhou de supetão e esfregou as mãos inconscientemente e olhou para trás e para todos os lados e percebeu que sozinho não conseguiria carregar aquilo, mas que com a ajuda dos filhos, e com o cobertor, conseguiria e eles teriam uma vida melhor e os filhos finalmente estudariam para ser gente grande.
Pegou um lindo colar de pérolas para mostrar à esposa e virou-se para seguir o caminho de volta naquele trajeto que tinha feito com o galho de árvore. Ia como um louco, e quando chegou perto da família, estava ofegante e a ansiedade trancava a sua garganta. Mostrou o colar para todos e gritava para voltarem, arrancou a coberta de cima dos filhos e foi quando o sol ardeu em seus olhos que ele olhou para onde estava aquela bola de fogo e não viu mais nada.
Ficou abobalhado com toda aquela situação. Os braços pendendo, as costas arqueadas numa estafa emocional, os pés ardendo de dor. Não soube explicar nada, apenas entregou o colar para a Salete e sentiu que perdera todo aquele tesouro que estava ao alcance de suas mãos. Arrependeu-se de não ter pegado mais coisas e sua raiva assustou a todos. Os filhos choravam escondidos atrás da mãe e ela pediu-lhe paciência. Aquele colar decerto faria um bem maior do que tudo aquilo que o marido tinha visto.
O homem não se convenceu, embrenhou-se mata adentro, enquanto a mulher fez o caminho inverso para pegarem a carroça e voltarem para casa.
Conta-se que, até hoje, o marido da Salete está em busca do tesouro da bola de fogo e ela, após a venda do colar, pôde dar aos filhos um pouco mais de conforto, porém não pôde aplacar as saudades que sentiam do pai desaparecido.


© 2014 Blog Sem Vergonha de Contar - Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão da autora. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O intrigante causo de Leonardo Sacco


Por Helena Frenzel

No século passado, num dia nublado, Leonardo Sacco nasceu. E talvez tivesse sido outra pessoa se, ao invés de só nuvens, houvesse chovido naquele dia, porque a chuva lava pecados e alegrias, dizem alguns, e é por isso que chove quando gente boa nasce ou morre, pois até a natureza sabe chorar. Será?!

Leonardo nasceu e cresceu no seio de uma família fufulalina nem rica nem tão pobre e, seguindo o caminho paterno, entrou num seminário para ordenar-se pastor. Desde pequeno demonstrava o seu comportamento peculiar na escola e assumiu o posto de orador. Na verdade, era um chato de galochas, e era chato porque em seu infinito pequeno mundo não havia pessoa além dele que tivesse mais razão, a última palavra era sempre sua, a disputa era a sua paixão, modo de vida e dogma. Era um imaturo.

Não se sabe bem como, conseguiu uma esposa e teve dois filhos. É que às vezes,  muitas, as mulheres não decidem o próprio destino. E a esposa era calma, mansa, calada, perfeita para uma duradoura união. O discurso vazio era a sua mania, críticas e conselhos eram impostos a quem não os queria e muito menos pedia, um simples comentário era motivo para exaltação. E era tão certo de sua razão que ninguém conseguia nem tentava discutir com ele, pois era evidente a cegueira e gritante a surdez, ambas metafóricas. Não tinha jeito: era política, religião, futebol, qualquer ‘-gia’... tudo ele sabia melhor, para tudo ele tinha ‘a’ explicação e o interlocutor era um zero à esquerda que nada tinha a dizer ou acrescentar. 

A fama de Leonardo era tanta que os pais se valiam dela para ter a imediata obediência dos filhos traquinas: “Se não se comportarem, chamo Leonardo Sacco!”, rapidinho a molecada pedia clemência e a paz voltava ao lar.

Os fufulalinos se queixavam à boca pequena e teve até quem sugerisse contratar um matador na capital. “Esse cabra precisa é de trabalho de verdade”, disse alguém. “Obriga ele a passar o dia inteirinho descarregando caminhões de areia com uma colherzinha de chá pra ver se ele ainda tem tempo de ficar discursando por aí”. “Ah, mas ele pode falar enquanto trabalha, essa não é uma boa solução”, alguém lembrou.

Foi então que o prefeito, homem cordato, resolveu tomar uma ação: mandou chamar da cidade o representante de um produto assim assado e, às escondidas, convocou uma reunião para instruir o povo de como poderiam mudar aquela situação na paz e na calma.

Algum tempo se passou e Leonardo começou a se incomodar com as reações do povo aos seus discursos, que já não suscitavam ira nem raiva, tudo o que recebia, quando muito, era um “Exato!”, um “Exatamente!”, um pacífico olhar vazio de intenções ou um intrigante e alto “O quê??”. Nunca se sentiu tão pleno no exercício de sua oratória e ao mesmo tempo inspirado a gritar para aquele povo o quanto eles eram burros, ignóbeis e o quanto precisavam da sabedoria de um líder e de um pastor. 

Até em casa, a esposa, que sempre fora calma, mais mansa se tornou. Se já quase não falava, de um dia para o outro  passou a andar tão distraída que Leonardo tinha de chamá-la várias vezes ao dia.

Um belo dia, atiçado pela indiferença do povo aos seus sermões, incluindo a própria família, Leonardo sentou-se no escritório, como de costume, para escrever. Não bebia nem fumava, que pena, mas tinha o hábito de, enquanto escrevia seus discursos, manter entre os dentes a tampa da caneta de marfim que há anos usava como um talismã, pois fora um presente de seu pai, o primeiro chato de galochas nascido em Fufu Lalau, já que seus avós haviam vindo do Sul e da Costa buscando as riquezas do Interior. Estava concentradíssimo bem no meio de um argumento, quando ouviu da cozinha um barulho ensurdecedor de panelas caindo e num susto engoliu a tampa de osso, caiu da cadeira e acabou de morrer no chão, estrebuchando as últimas frases prensadas porque a última palavra era sempre sua, sim senhor!

Demorou um tempo até que, sentindo a falta do marido para o almoço, a esposa entrasse no escritório e descobrisse o corpo estendido no chão. Pediu socorro mesmo sabendo que seria sem efeito e no final dos exames confirmou-se a morte por engasgo acidental, e dizem que ele morreu com a boca tão cheia de palavras que não houve quem conseguisse fechá-la mais tarde e foi enterrado com meio palmo de língua arriada. 

E essa foi a notícia mais comentada no Diário de Fufu Lalau: Leonardo Sacco havia passado, dai graças! E muitas pessoas saíram às ruas festejando, jogando para cima minúsculos tapa-ouvidos que esperavam nunca mais na vida terem de voltar a usar, pois incomodavam bastante, mas era melhor do que ser surdo ou ter de ficar ouvindo o que não ajuda não se precisa nem se quer.

No enterro, apenas a família do morto, o coveiro e um pastor que, sem saber nada do caso havia sido chamado às pressas da cidade para o discurso de praxe: “Por ter cessado sua existência terrena, entregaremos seu corpo à terra. Terra à terra, cinza à cinza, pó ao pó. O espírito, nós o deixamos na mão de Deus.” Deus teve ter se revoltado porque nesse momento soprou um vento tão forte que a terra voou da beira do buraco, como se dissesse que nem mesmo ela se alegrava em receber aquele rebento, e do espírito não me pergunte, pois não sou desse departamento. 

Nesse meio tempo, apertando numa das palmas a bendita tampa de ossoparecia que a viúva observava os filhos e pensava no gene da chatice, e entre uma lágrima e outra de alívio rezava para que neles esse traço não saísse. Naquele dia o céu estava nublado mas, como já esperado, não choveu nem um pingo, porém houve no céu um lindo arco-íris, quem sabe uma nova esperança para aquela mulher tão... tão... triste? E ao baixarem o caixão na cova, as cordas rangeram amargo e o ataúde estremeceu. Em se tratando de quem era o morto, ela nem se surpreendeu, pois ele jamais sossegaria sem aquele último... 'adeus'.




Esta é uma obra de ficção e não se refere a pessoas ou fatos concretos da vida real. Todos os nomes dos personagens foram escolhidos ao acaso, por adequação fonética e/ou estética na narrativa. Qualquer semelhança com  fatos ou nomes de pessoas ou lugares na vida real terá sido mera coincidência e não foi proposital. Este texto é de única responsabilidade da autora e não representa, em hipótese alguma, suas crenças ou opiniões pessoais nem as de outros autores que publicam neste site.


© 2014 Blog Sem Vergonha de Contar. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O MUNDO


Por Heitor Herculano Dias
Casimiro já estava pra lá de acostumado. Ia chegando o final de semana e lá vinham as mesmas gozações com a casa da Silvinha. Na verdade, as brincadeiras do pessoal de casa não eram propriamente com a Silvinha, sua namorada firme  de mais de três anos. Com o que Cristóvão, o mano mais velho, e Isabel, a caçula, reforçados pela prima Katia Cristina implicavam era o endereço da Silvinha.
− Morar de frente pro cemitério, Casemiro? Pelo amor de Deus! – lá vinha o refrão do Cristóvão liderando a turma assim que o via de banho tomado, camisa passada pela mamãezinha, prontinho pra zarpar ao encontro da amada. Bastava Casemiro dar o clássico “tchau, mãe”, e logo explodia às suas costas o coro de “Abre o olho com o vampiro, hein! Se cuida, Casemiro, olha a caveira!”  E retumbavam os “quá-quá-quá” mesclados aos “Cô, loco, meu!” do Cristóvão lá da sala, inveterado telespectador do Domingão do Faustão. 
Mas ele não se aborrecia. No início até que se encrespara com Cristóvão, chamara-o de incruado, pior que solteirona frustrada, barrigudo e outras coisinhas tais que, felizmente, por obra e graça de Nossa Senhora Aparecida, no dizer de dona Esmeralda, nunca afetaram a união e o amor entre seus filhinhos. Casemiro saia imaginando como seria bom se não dependesse daquele ônibus circular para chegar à casa da namorada. Afinal de contas, raciocinava, era só um trajeto de uns dez minutos, no máximo. O coletivo circundaria uns poucos quarteirões em volta do tal cemitério, para deixá-lo praticamente na porta da casa da Silvinha. Ele sempre foi preguiçoso para longas caminhadas, mas às vezes chegava a imaginar que seria mais prático dar um trabalhinho às pernas, pelo menos nos dias de namoro, e atravessar todo o cemitério saindo bem em frente à residência da futura noiva. 
Casemiro jamais comentou com Silvinha qualquer coisa a respeito dos bombardeios piadísticos em casa. Seria falta de tato, julgava, um desrespeito à família da namorada, pois afinal de contas casa própria é casa própria, não importa onde. Bom, mas chegou um sábado em que dona Ivete, a futura sogra, comemorava seus bem vividos sessenta anos. Daí que a sessão de amassos do casalzinho de namorados na varanda teve que ser aditada com a reunião de toda a família em volta da mesa da sala para o "Parabéns pra Você".
− Bem, prova um olhinho de sogra.
− Mais um pouquinho de guaraná, meu filho? 
Nessas e outras, quando Casemiro se deu conta: quase meia-noite, e foi Silvinha quem deu o alarme. 
− Benzinho, não tem mais ônibus a essa hora! E agora? 
Dormir ali, na casa da namorada? Nem imaginar tal sugestão. Casemiro e Silvinha trocaram olhares significativos a respeito da impossibilidade de tal proposta ser sequer votada em plenário. O jeito, pois, seria ele voltar pra casa a pé. Chegara afinal o dia em que Casemiro iria mesmo se submeter a uma boa caminhada, que afinal de contas só poderia lhe fazer bem à saúde. Não desejava ficar igual ao Cristóvão, pouco mais de trinta anos e já com aquela respeitável barriguinha. 
Feitas as despedidas dos sogros e trocados os últimos beijinhos e apertos no portão, Casemiro  deu início ao trajeto de volta pra casa. Poderia escolher entre duas opções, calculou. Caminhar pelo menos uns oito longos quarteirões, subir uma ladeirinha, para depois desembocar logo em sua rua. Mais ou menos como se andasse num semi círculo contornando o cemitério, cujo muro estava bem ali, do outro lado da rua e de frente para a casa da Silvinha.  Se se dispusesse a cruzar o cemitério, andaria, brincando, brincando uns vinte minutos a menos. 
Por que não tentar essa variante? Medo de quê? “Tenho medo é dos vivos!”, sempre foi seu bordão preferido quando em conversas a respeito  de mortos e cemitérios. Casemiro então se decidiu. Havia uma entrada do cemitério logo adiante, que, se não lhe traía a memória, ficava sempre aberta, mesmo à noite. Com efeito, o velho portãozinho de ferro enferrujado tinha uma de suas bandas pendentes, quase se despencando em meio ao capinzal. Escuro, totalmente, até que não estava, constatou satisfeito Casemiro logo aos primeiros passos, observando a aleia central iluminada pelas lâmpadas de dois postes, ainda que fraquinhas. E se fosse escuro, preto assim que nem breu? Ele era um homem, ou um rato? Caminhava conjecturando. O que as pessoas tinham era preconceito, superstição contra os cemitérios, pois afinal de contas é pra debaixo da terra que todos têm que ir, mais dia menos dia. Até mesmo aquela senhora que ia lá adiante! Deduziu Casemiro ao avistar  o perfil feminino a caminhar lentamente pela estreita pavimentação da via central, aparentemente sem demonstrar pavor algum. Em poucos minutos, seus passos, mais longos do que os da avistada caminhante, colocaram-no lado a lado com esta, vista assim de perto uma mulher bem idosa trajando saia comprida e um leve casaquinho de lã que deixava aparecer a blusa de gola alta e abotoada. Tinha os cabelos brancos presos num coque, e sua mão esquerda abraçava um grosso livro de capa escura. 
Já então, lado a lado com a tranquila caminhante, Casemiro a saudou com respeito: 
− Boa-noite, minha senhora! 
− Boa-noite, meu filho – a resposta foi cordial, simpática. 
Pressentindo que seus passos de mais jovem logo a deixariam para trás, refletiu contudo que pelo menos por uma questão de cortesia não lhe custaria nada diminuir as passadas e seguir andando ao lado daquela humilde senhora. Não seria por isso que ele se atrasaria tanto assim, pois a saída do cemitério estava logo lá adiante. 
− Hmmm..., bonita noite, não? – arriscou um princípio de conversa, correspondido pela ocasional companheira de caminhada. 
− É sim, meu filho. Fresquinha, né? 
− Pois é, ‘tou voltando da casa da minha noiva. Imagine a senhora que perdi o último circular.
− Oh, pena, não? 
Foi quando ele arriscou a pergunta de praxe:
− Desculpe-me por perguntar, mas a senhora não tem medo de andar por aqui sozinha, neste cemitério, à noite? 
A velha senhora deu um risinho divertido e de certo modo superior antes de responder. 
− Medo? Eu? Que nada, meu filho. Medo, só quando eu vivia no mundo!!!
Casemiro nunca soube explicar como adquiriu tanta força e presteza pra correr mais de uma centena de metros sem sequer olhar para trás, nem preocupar-se com buracos, sepulturas ou quaisquer eventuais obstáculos. Somente após uns dois copos d’água e uma enxurrada de “Calma! Calma! Já passou!”, conseguiu narrar melhor o ocorrido no campo santo. Verdade que, proporcionalmente à desaceleração de suas batidas cardíacas, cresciam as risadas e gozações comandadas pelo mano Casimiro, apesar dos reclamos piedosos de dona Esmeralda em favor do ainda apavoradíssimo filhinho. Coube a Isabel, assim que a saraivada piadística em cima do assustado irmão arrefeceu, pedir a palavra para a explicação definitiva do motivo de tanto susto: 
− Oh, Casemiro, deixa de ser boboca! Se apavorando assim à toa e assustando mamãe! Aquela velhinha é uma crente que mora aqui na rua mesmo.   Sei quem é! Ela quis dizer que agora só vive pra Cristo. Os evangélicos chamam de mundo tudo o que não interessa mais a eles depois que se converteram. Ouviu, Zé Mané? 
Mas, por essas e outras, Casemiro foi obrigado a promover uma revisão drástica em seus horários de visitas de fim de semana a Silvinha. Por mais gostosinho que estivessem os beijinhos e apertões, nada de despedidas pra depois das dez! 
− Ah, benzinho, fica mais um pouquinho só... 
− Eu, amor? Nem morto!





Nota: Assumimos que este texto se trata de ficção, ou seja: não se refere a pessoas e fatos do mundo real nem emite sobre eles juízo ou opinião. Ele nos foi enviado para publicação pelo(a) próprio(a) autor(a), sendo aqui reproduzido conforme o original recebido. É de autoria e inteira responsabilidade do(a) autor(a), que detém sobre o mesmo todos os direitos autorais. Este texto não representa, necessariamente, a opinião das editoras e de outros autores deste site. 

 © 2014 Blog Sem Vergonha de Contar - Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 

sábado, 6 de setembro de 2014

Um Cobertor


Por Helena Frenzel

Desde pequenino vivo às voltas com este meu incompreendido dom: o dom do bom ouvido. Antena, sensitivo, médium, maluco, aproveitador, perdi a conta das vezes que fui acusado de charlatanismo e já desejei muito a surdez, porém, sempre que tentei tapar os ouvidos, as vozes na minha cabeça aumentaram tanto em quantidade e em volume, que o peso dos sussurros não pude mais conter. Naquele domingo frio eu voltava de um passeio matinal pelo bosque e parei junto ao córrego para ver a passagem das águas e foi então que começou:
Que lhe restava pouco tempo, disso ela sabia, só não sabia que seria assim. “É difícil relembrar e rever em detalhes o que tão rápido se passou”, ela me disse. Sabe quando se perde a noção de tudo? E naquela tarde era assim que ela estava. O cansaço era grande, enorme a confusão de vozes ininteligíveis porque surda se tornara aos latidos do mundo que distinguia através de um véu quase cego. Ela sempre obedeceu, o comando era sua vida e a obediência era o que lhe garantia casa, comida e atenção. Ela dormia cedo, deitava-se ao escurecer e levantava-se com as primeiras luzes, todos os dias com uma fidelidade não melhor definida que fidelidade canina.

Enxergava apenas sombras, como disse, mas sentia tudo ao seu redor, e por isso teve pena de Maria e, mais uma vez, com sua obediência, quis facilitar para ela o final, a despedida, pois sabia que não duraria muito. Enquanto a doutora apalpava sua barriga, sentia os dedos delicados buscando sob sua pele o conhecido algoz, mas um exame de sangue guiaria a decisão, foi o que ficou decidido ali naquele consultório da Rua Anísyo, número 310. “Eu, que sempre tivera medo de agulhas, de tanto cansaço já nem resisti”, ela me disse. Sentiu apenas uma mão pequenina segurando-lhe com delicadeza e uma leve picada, nem mesmo um frêmito, nem mesmo dor, era quase um abandono de si, e todo o tempo sussurravam-lhe palavras doces, de que iam conseguir, de que já estavam terminando, de como ela era muito corajosa e coisas que tantas vezes ouvira de outras pessoas mas sem captar que obediência era tudo o que sempre esperavam dela e ela de si. Terminado o exame, teve ainda forças de arrastar-se até outra sala, pois agora era esperar. 
Que era o fim ela já sabia, só não sabia quando ao certo, como ninguém sabe aliás, e por uma meia-hora a máquina centrifugou suas lembranças com as de Maria, as alegres com as da dor, pois antes de chegar à família havia ela passado pelas mãos de um ser humano nada humano, um verme valeria mais! Ninguém nunca soube ao certo, nem mesmo ela, o que lhe acontecera no passado, mas de homens tinha pavor. Quando pequena, urinava-se nas pernas tamanho o pânico e o horror que lhe tomava só em perceber que qualquer homem se aproximava, e por isso se agarrou a Maria, que temia os seres masculinos tanto quanto ela, embora tivesse já aprendido a defender-se e enfrentá-los. Sua natureza dócil nunca lhe permitiu revidar, o calar-se era seu refúgio, e assim foi feliz, sem arrependimentos. Agiu quando foi preciso, só quando, mas só para se defender ou aos outros, e o cessar da máquina centrífuga levou Maria a uma outra sala e obrigou-a à inevitável decisão. 
Maria disfarçou o choro, pois sempre fora muito forte, ela mesma já tendo lutado contra a irmã gêmea da vida, a morte, aprendera a resignar-se e aceitar, das duas, as duras decisões. “Eu estava tão fraca que só captei o horário... por volta das oito e meia, depois que o expediente findasse a doutora viria até nós.”, ela me disse. Maria a pôs no carro e o mundo escureceu para ela mais uma vez, por uns dez quilômetros. Em casa, buscou seu canto. Há dias não sentia vontade de comida, só precisava beber. E queria, e bebia. Bebia como se fosse a água última da vida da fonte de Salomão e deitou-se um pouco, o cansaço a venceu. 
Já era noite, deveria ser quase oito e meia porque a médica era pontual. Maria andava de um lado para o outro, vez ou outra conversando com o filho rapaz que, triste, observava seu estado. O gato a olhava de longe, ela não o via mas sentia o seu cheiro, sabia que ele estava ali, despedindo-se. Quando Maria a deixou um pouco, ele chegou de mansinho e passou uma das patinhas por seu rosto febril. E ela me disse: “Disso eu jamais esqueci, um dos tantos amigos que fiz e éramos tão distintos, distintos porém iguais, de certo modo. Sei que sentirá minha falta, como a menina também. Ela não sabe de nada, puseram-na para dormir e apenas disseram que eu estava cansada, e que por isso não poderia me ver. Ela estava com Maria, no carro, mas todo o tempo não captou o que de fato se passava. É que não há fim para as crianças, parece que não há mesmo um final, apenas um estado e uma passagem, um tempo de separação.” 
A médica chegou e todos já estavam preparados, principalmente ela, que bem sabia não veria o próximo amanhecer, resignada. Primeiro foi o anestésico seguido da promessa de que ela não sentiria dor, de que seria rápido e da explicação de que se não fosse aquele o caminho, o natural poderia ser tortuoso pela falta de glóbulos brancos e do transporte do sopro da vida, e de que o instante da partida poderia ser tão agonizante que nem ela, nem Maria, nem o rapaz, nem a médica, nem a menina que nada sabia, e nem o gato poderiam jamais conseguir esquecer e, isso sim, seria um desastre pois quem teve uma boa vida como ela tivera, merecia uma boa morte, em paz, e era isso o que todos ali estavam tentando lhe dar. 
Ela já estava a meio-caminho, mas ainda ouviu a médica perguntando se já poderia aplicar a outra injeção, se Maria estava de acordo ou se precisava de algum tempo mais para a despedida. “O tempo chegou”, dissera Maria com enorme tristeza e a médica aplicou. 
“Em menos de um minuto senti o cansaço de anos ficando para trás rapidamente, e eu, finalmente, gozava o descanso. Eu ainda estava ali quando ouvi a médica explicar que eu não estava mais entre eles, mas eu estava, de certo modo eu estava e vi as pessoas ao meu redor sentindo-se muito tristes mas relembrando os bons momentos que a vida sempre dá, por pior que seja, relembrando a minha chegada ao seio da família, as vezes em que mostrei o meu valor, de como todo mundo me conhecia e me amava, de como eu era querida, fiel e dócil, dos carinhos, dos cuidados, dos momentos finais. Então uma luz foi se aproximando e ainda pude ver Maria cobrindo meu corpo magro com a coberta florida que sempre me acompanhou.”, ela me disse.

Nesse ponto ela calou-se e eu voltei ao mundo real, sem susto, e na cabeça fiquei com a imagem de uma linda cadela pastor alemão e quatro letras na combinação “Susi”, então ouvi uma outra voz mais grave, dizendo:
“No dia seguinte, logo cedo, Susi foi enterrada com toda a honra que merecem os amigos leais, sejam humanos ou animais. Ela viveu uns quinze anos, acima da média de vida para um cão pastor-alemão. Deixou saudades e um grande exemplo de amor. E ela não sofreu, seu rosto estava pleno da serenidade com que sempre viveu. Foi enterrada com a sua coberta especial, a florida. Agora peço a você que conte à menina a história que Susi contou. É essa a sua tarefa.“

Menina, se Maria não chorou, eu, que conto esta história, agora choro, e você pode até não crer na minha história nem neste meu dom do ouvido, o direito da dúvida é todo seu, só sei que tanto para as boas pessoas quanto para os bichos, deve estar reservado algo de bom após a partida, ainda que seja algo muito simples, como um grande, aquecido e macio cobertor.




Esta é uma obra de ficção, não se refere a pessoas nem a fatos concretos do mundo real e não representa a opinião ou crenças da autora nem as dos demais autores que publicam neste blog.

© 2014 Blog Sem Vergonha de Contar. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Copo


Por Michele Calliari Marchese

No início do século passado, quando a Campina da Cascavel era apenas uma pequena comunidade em ascensão, o tabelião chegou da capital com um jornal escrito em inglês, dizendo que aparecera em algum lugar da França experimentos assombrosos que eram como uma espécie de comunicação com o além, uma comunicação com os mortos. Explicava sobre um ensaio com uma mesa, uma tábua ouija e outros tipos de conversações – ainda esperando ser comprovadas - com o pessoal do lado de lá.
O tabelião deixou a nota grudada na vitrine do seu estabelecimento com a devida tradução. Quem passava e sabia ler, lia e ficava impressionado com tamanhos absurdos, mas decerto que seria o progresso e o Padre Dimas falaria disso em alguma missa.
O papel amarelou justamente no dia em que duas amigas apaixonaram-se pelo mesmo rapaz.
Eram amigas íntimas e logo, a Karina expressou seu amor pelo moço Leandro. Disse também que havia recebido um bilhete perfumado, sem assinatura, mas tinha certeza absoluta que o remetente era o seu apaixonado. A Jussara mordeu-se de ciúmes e ainda mais depois de ler a dita missiva. Aquele perfume que exalou das palavras de paixão, entraram em seu ser como uma nuvem brilhante de felicidade e pensou que era ela quem merecia tanta poesia. Esqueceu-se da amiga e apertou o bilhete em seu peito como se fosse a própria alma do rapaz e a Karina ofendeu-se com tamanho disparate e tirando bruscamente o papel das mãos da amiga, pediu explicações.
Jussara falou que sempre sonhara com um príncipe encantado e que tinha juntado o papel em seu peito para ver se “chamava” um daqueles para si.
Também queria amar e não era justo a amiga pensar bobagens. E a Karina acreditou no embuste da mulher traidora.
Pois o Leandro não tardou em mandar bilhetes assinados à Karina e esta, ficava cada dia mais deslumbrada e contava tudo, desde seus anseios até o medo de ser enganada.
Um dia, a Jussara disse à Karina que conhecia um método para saber se o Leandro estava mesmo apaixonado por ela e se iriam se casar e se teriam filhos, se a casa seria como ela gostava e saberiam do futuro através dos espíritos. Karina, fervorosa em sua religião, não aceitou imediatamente, mas a curiosidade foi tanta que acabou concordando.
Fizeram muitos papeizinhos com todas as letras do alfabeto, um “sim” e um “não”, todos os números, acenderam uma vela, dispuseram tudo num círculo, a vela do lado de fora e um copo do lado de dentro. Fizeram uma reza que só a Jussara sabia, colocaram as mãos no copo e pediram: “Tem alguém aí”?
Karina estava muito nervosa e não foi difícil para a Jussara dizer-lhe através das andanças do copo pelo alfabeto que o Leandro era um crápula e que se casaria com outra e, portanto, ela estava sendo alvo de algo que possivelmente não se livraria durante toda a sua vida. Que terminasse o relacionamento e tudo daria certo em sua vida.
E foi exatamente isso que a Karina fez. Terminou com as trocas de cartas amorosas dizendo não ser hora para um namoro. O Leandro ficou triste e, amargurado em suas dúvidas, resolveu – como numa vingança – namorar Jussara, somente para lhe dar na cara que não gostava de ser despachado assim, sem mais nem menos.
Obviamente que a Jussara aceitou, mesmo vendo a amiga em prantos e sofrendo deveras pelo afastamento do seu amor. Mas Karina tinha determinação e foi-se embora para a capital estudar para ser professora.
O Leandro logo se cansou de todas as facilidades que o amor de Jussara lhe brindava e decidiu que ela não era moça para casamento e que se ela lhe entregava tudo de mão beijada, provavelmente faria o mesmo com todos os outros que se aproximariam. E ele não titubeou quando terminou os encontros furtivos e doentios com ela.
Inconformada com a situação, Jussara resolveu recorrer àquele método de comunicação com o além e assim que depositou o copo dentro daquele círculo medonho, ele moveu-se sozinho, indo parar em frente ao papel escrito “não”. Pegava o copo de volta e começava com aquela reza sem nexo, desesperada em seu íntimo, louca para saber o que tinha tirado Leandro de si e quando então abria os olhos cheios de lágrimas encontrava o copo apontando o “não”. Não se apercebeu da ira que foi tomando conta do seu ser e com um golpe de mão espalhou todos os papeis pelo chão e chorava copiosamente com os músculos endurecidos e doloridos da pressão que sentia em seu coração. Levantou a cabeça num assomo efêmero de tranquilidade e foi procurar o copo para guarda-lo. Ele estava apontando para um bilhetinho virado para baixo e quando foi ler o que estava escrito, encontrou o “não” de novo em suas mãos.
 Amassou aquela palavra maldita e sentou-se com o copo na mão.
Estava tão cansada daquilo que foi deitar-se. Acordou sentindo um cheiro de queimado em seu quarto e o copo que antes estava em seu colo, agora apontava inescrupulosamente para o “não” marcado a fogo no assoalho de seu quarto.


© 2014 Blog Sem Vergonha de Contar - Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão da autora.