segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Valor dos Sonhos


Por Celêdian Assis de Sousa

Caía a tarde, já se pintava no horizonte uma aquarela de belos tons, sol desmaiando lentamente, trazendo as cores de fogo, sob os azuis que aos poucos, acinzentavam-se. Cenário perfeito para ele, aquele ancião, que da varanda, em sua cadeira de balanço embalava seus pensamentos e alimentava a sua sabedoria.
Já fazia parte de sua rotina diária sentar-se ali e meditar sobre a beleza que existe nos contrastes, dos sóis e luas, das cores da vida. Não raro passava por ali uma menina faceira, que lhe interrompia os pensamentos. Ela, esperta e curiosa, sempre sorridente parava para cumprimentá-lo e para fazer-lhe perguntas sobre as coisas mais triviais, o que sempre rendiam boas conversas. Ela, com a natural simplicidade de criança, o levava a transportar-se para o mundo de fantasias.
Nessa tarde, a menina chegou, abraçou-lhe e contou-lhe algumas façanhas do dia, o que ele ouviu atentamente e ao final sorriu um daqueles sorrisos ternos, que pareciam consentir que ela o transformasse em criança. A conversa enveredou-se entre muitos temas, até que de repente, sem nenhum embaraço ela pergunta ao ancião:—O senhor acredita em Papai Noel?—A pergunta tomou-o de súbito espanto, mas tão logo se recuperou, tomou-lhe as mãos, olhou-a com ternura e começou a contar-lhe uma história:

—Quando eu era ainda um menino, esperava pelo dezembro com muita ansiedade. Eram dias nos quais eu me sentia muito feliz. Não havia luzes coloridas enfeitando as casas, como as de hoje, mas havia sempre no canto da sala a árvore feita de galhos de pinheiro, com as bolas multicores e era como se cada uma delas guardasse os meus sonhos. A família parecia transbordar de amor e uma alegria incontida tomava conta da casa. Meus pais davam a mim e aos meus irmãos, sapatos novos, logo no início do mês e diziam que deveríamos guardá-los até a noite do Natal, quando então os colocaríamos na janela, para recebermos os presentes que Papai Noel nos traria. Por muitos e muitos anos eu acreditei que Natal significava “dia de ganhar presentes”. Pois bem, eu crescia e assim como você agora, passei a perguntar-me se Papai Noel existia. Muitas vezes fiquei em dúvida, pois eu convivia com outras crianças e algumas nunca ganhavam presentes, na casa delas não havia sapatos novos para se colocar na janela e seus pais às vezes, não se importavam com Natal. Eu só entendia que aquilo não era justo e se ele existisse mesmo, não se importaria de deixar presentes, mesmo que não houvesse sapatos na janela, ou árvores na sala. Foi daí que comecei a pensar no verdadeiro significado do Natal e fui crescendo até envelhecer, sempre pensando e agora me vejo aqui diante de você elaborando a resposta para a mesma pergunta, a mesma que fiz a mim a vida toda. Então eu lhe digo: eu acredito em Papai Noel, pois ele tem me dado um presente a cada dezembro, que me sinto vivo. Entendi que não preciso dos sapatos novos e nem preciso receber caixas com laços de fitas, apenas preciso sentir a presença dele na minha imaginação, esperando sempre por ele, esperando que haja um próximo dezembro. Presente significa receber da vida o que é fundamental para te fazer feliz, e em cada momento dela descobrirmos o que é realmente importante para nós. Então minha linda menina, saiba que, nesse Natal já recebi o meu presente e você é o meu Papai Noel. Este sorriso que me trouxe, o abraço terno e sua meiguice de criança fazem com que eu me sinta vivo e de novo feliz, como nos tempos de menino.

A menina sorveu cada palavra e entendeu que Papai Noel existe e que ele é o próprio presente, o que escolhemos para manter viva a magia dentro de nós.




Nota: este texto faz parte do ebook natalino a ser lançado muito em breve no site do Projeto Quintextos.

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3 comentários:

  1. Olá Celedian! Seu conto é deveras reflexivo, e cá estou, refletindo o verdadeiro significado dessa data tão especial que é o nascimento do menino Jesus. Beijos em seu coração

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  2. Excelente texto, como sempre são seus textos, Celêdian ! Eu continuo sendo um "derretido"por contos de Natal, você já sabe. Parabéns. Beijo.

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  3. Que gracinha! Delicia de texto. Por isto este ano fiz um arranjo de galho seco, exatamente para relembrar aquilo que vivemos.
    Betania

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