domingo, 7 de julho de 2013

Voltando à Ativa



Por Helena Frenzel

Pois é, saí daquela passividade morosa dos dias em que fiquei na casa da Puta (e do filho dela), onde só de vez em quando — e olhe lá! — recebia uns dois punhados de ração. O dono e a mulher tiveram de voltar mais cedo de Mallorca. Trouxeram na bagagem um negócio de porco qualquer... Ah, uma gripe! A gripe de porco! Ainda bem que não foi um espírito de porco, desses que se tem de trazer bem amarrado, dentro de um cofo(1) pro bicho não escapar. Esse aí, dizem, demora muito mais tempo pra se deixar tratar, e quando curado, carrega seqüelas gravíssimas, podendo até levar o paciente tratador desta para uma outra — e espera-se: muito melhor que esta aqui — Quanto a isto há controvérsias... Sobre o quê?! Se a outra é melhor ou pior do que esta, oras! Eu, por exemplo,... Ah! outro dia conto como vim parar por aqui. Sim, tratado o porco e curada a gripe, o dono voltou à ativa no restaurante — e conseqüentemente: eu também — Ó vida marromenos... Todo dia show, toda noite show da vida. E eu lá, pra anunciar os entertainments. É cada uma que me acontece... Meu poleiro fica próximo a um aparelho de TV. É canal pra dedel, vice bichim?! Foi assim que aprendi a ler e entender várias línguas. Se bem que eu acho que só reativei a memória. Tenho uma impressão de que já sabia todas essas línguas. Estranho, muito estranho... Até parece que já fui humano. E essa sensação é pujante quando vejo uma dona bonita. Ah, minino, inda mais quando a dona se dana a querer brincar comigo e vem com aquela de dizer: “Dá o pé, loro! Dá o pé, loro!”. Êh-ê, se ela soubesse... Pois é, e o maître da cara caiada — só durante a noite, pois durante o dia (cara!) ele lava a cara — veio me dar de comer e mudou para um canal de notícias. Todo dia é uma briga no planeta dos macacos ignorantes... tsc... tsc... tsc... Os humanos só sabem brigar. O povo agora anda discutindo o uso de um tal de scanner nu... Diz que viajar de avião ficou muito mais perigoso. Se for para os estates, então, aí mesmo diz “Te arreda! Deus me livre! Nem P(h)odendo!”. Além do risco do bichão cair, que segundo os apresentadores do telejornal é um risco muito pequeno, que só de vez em quando acontece, há também o risco de morrer explodido por um terrorista. Por isso, nos aeroportos agora querem que todo mundo mostre suas ‘vergonhas’ — se é que alguém ainda as tem — para o pessoal da segurança. Ah, minino! Eu acho é pouco! Já pensou o vexamento?! Se o terrorista for isperto mermo... Pensando bem, essas medidas de segurança em aeroportos são todas fáceis de burlar. Já que o caboco decidiu morrer mermo, tanto faz onde ele carrega os explosivos, dentro ou fora do corpo, tanto faz. O problema é que com esse scan aí só dá pra ver o que vai por fora e... eu tinha de estar aqui pra ver a visão de raio-X do superman se tornando realidade... Ih, o maître mudou de canal! Ô cara caiada lavada, não tem nada melhor pra fazer não? Fofoca de celebridades... Vixo, tô fora! Tô fora! Humm, as meninas do espetáculo chegaram pra ensaiar... Deixa elas virem me pedir pra dar o pé, deixa... He he he he... “Currupaco! Papaco! Currupaco! Papaco!” Eita que eu adoro essa minha vida de papagaio...

*  *  *

(1) Cofo – no Maranhão: cesto de palha usado para armazenar arroz, farinha e outros grãos, também para transportar frangos e outros animais pequenos em ônibus ou carroceria de caminhão. No Houaiss: definido como samburá (cesto de taquara usado na pesca), coisa que eu até agora desconhecia... Pois num é?! Vivendo, escrevendo e aprendendo!

Terceira narrativa da série Piroco Paio, também de 2009.

Desta série leia também:

No Restaurante - O Show da Vida e Pelo Nexo e Meio Sem Fim




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7 comentários:

  1. Ótima narrativa! Peguei o hábito de visitar esse cantinho tão acolhedor.Vir aqui é certeza de achar coisa boa. É quem nem beber café quente com bolo de fubá na casa de uma cumadi. Abraço, Helena.

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    1. Obrigada, Maria. Sua presença por aqui por certo enriquece. Volte sempre e traga uns biscoitos, que o café preparamos com gosto e prazer. Abraços!

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  2. Ótima narrativa! Peguei o hábito de visitar esse cantinho tão acolhedor.Vir aqui é certeza de achar coisa boa. É quem nem beber café quente com bolo de fubá na casa de uma cumadi. Abraço, Helena.

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  3. Gostei muitissimo. Nas primeiras linhas me assustei um pouco com aquele "casa da Puta", achando que fosse mais uma dessas apelacoes tao comuns aos palavroes ditos apenas para se parecer (o escritor) diferente, ousado, modernissimo, coisa e tal; mas com a leitura veio a minha admiracao pelo otimo trabalho.

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    1. Obrigada, Heitor, pelo comentário tão produtivo. Se você leu os anteriores, deve ter entendido a expressão ;-) Grande abraço, até mais ver!

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  4. Esse papagaio!!!!! Adorei... essa sua série está muito boa, parabéns! beijos

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    1. E olha que essa saga é antiga, por isso estou revisitando estes textos, tive grande prazer em escrevê-los. Obrigada, Comadre Mi!

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