Por Michele Calliari Marchese
Por fim Mariana arranjou um namorado e iam
casar. Por nada no mundo deixava que o Antônio lhe encostasse um dedo sequer.
“É pecado.” Mal lhe beijava a face na despedida do namoro. Não sabia dessas
coisas e nem das outras, aquelas da carne. Não ousava pedir para a mãe sobre o
casamento por puro respeito, e a mãe de vergonha pouco lhe dizia.
O namoro durou muito, porque nesse meio tempo o
Antonio satisfazia suas necessidades na casa da Dona Luiza e por lá tinha uma
namoradinha fixa e assim ele ia levando as duas em banho-maria.
Os pais da Mariana resolveram por um fim naquele
eterno namoro e chamaram o Antonio para que tomasse as providências para o
casamento que se realizaria por bem ou por mal dali um mês, contando da data da
conversa. E ao futuro noivo não sobrou outra coisa a não ser comprar as
alianças e despachar a namoradinha.
Para despachar a namoradinha levou quase o tempo
dos preparativos do casório, e não tinha jeito de arranjar as palavras certas
para o rompimento. E disse então numa grosseria de dar dó que ela era
simplesmente “a outra”, e que onde ela estava homem nenhum tiraria, tampouco
ele. A outra se ofendeu, mas a Dona Luiza soube como contornar a situação e
mesmo triste e abandonada a namoradinha se conformou.
A Mariana não desconfiava de nada do Antonio e
muito menos de como se nasciam os filhos, ou melhor: de como se faziam os
filhos. Foi com a graça da pureza e a ignorância estampada no rosto juvenil,
receber o Antonio em matrimônio sem imaginar o significado de uma noite de
núpcias.
A outra assistiu o casamento com lágrimas nos
olhos, bem no último banco da igreja, próximo à saída. Engolia os soluços com a
determinação de uma mulher que ama. Ali, tentou despedir-se em pensamento do
seu Antonio, mas não conseguiu; alguma coisa lhe dizia que esperasse mais um
pouco. Saiu apressada da igreja e foi ter com a Dona Luiza que decerto a
confortaria mais um pouco.
O casamento acabou e a festa também.
O Antonio já estava deitado na cama dentro do
seu pijama novo quando estranhou a ausência da mulher. Foi procurar e encontrou
a Mariana dormindo no outro quarto. Perguntou-lhe o que fazia ali e ela
respondeu que ia dormir. Ele ficou desconfiado e ainda mais quando ela se
cobriu até o nariz com o lençol para que ele não a visse de camisola.
Então ele lhe disse que fosse até a cama do
quarto deles para que tivessem a noite de núpcias e a Mariana começou a chorar
e a pedir o que é que ele tinha em mente. Antonio sequer respondeu e não restou
outra saída a não ser falar com a sogra, pois que diante da choradeira,
desconfiava que a Mariana não soubesse o que tinha que fazer. A sogra ficou
desolada e envergonhada lhe disse que ele voltasse para casa e ensinasse o que
a Mariana precisava saber.
Voltou
para casa e tentou explicar numa conversa amena, ele de pé e ela escondida sob
os lençóis. Mas não teve êxito. Numa das tantas saídas dele da casa naquela
noite foi que teve a ideia de chamar a namoradinha, para que ela explicasse
para a mulher as coisas do céu e da terra que aconteciam na noite de núpcias.
Oras, quando a namoradinha escutou tamanho
absurdo, no início se sentiu a última pessoa que poderia existir na face da
terra, mas depois, ponderadamente e analiticamente resolveu que sim, que iria
conceder mais esse desejo ao amante.
Foi escondida sob um guarda-chuva debaixo de uma
lua cheia e sem nuvens. Era estranho aquilo, mas como era madrugada, ninguém
deu conta do ocorrido.
Chegando a casa, o Antonio fez as apresentações
e a agora “prima” trancou-se no quarto com a esposa. Ficaram tanto tempo que o
marido teve que bater na porta porque já ia tarde alta.
A Mariana se sentiu segura na presença da outra
e pediu permissão ao marido que a acolhesse por uma semana e que ao cabo do
aprendizado ela teria com ele a Noite de Núpcias. A namoradinha adorou a ideia,
porque depois da escolarização passava o restante da noite com o Antonio e como
a Mariana era uma pessoa muito pudica e confiante não desconfiava de nada.
Quando aquela semana terminou, uma Mariana
despojada e mais feliz anunciou o fim do casamento nunca consumado e quando o
Antonio pediu o porquê, nem precisou ouvir a resposta, pois que a namoradinha
também estava de partida.
Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão da autora.
O feitiço virou contra o feiticeiro! hahaha!
ResponderExcluirFinal inesperado! Gostei muito de seu conto! Isso acontecia muito nos casamentos de antigamente. Até escrevi um causo contando um fato real. Um abraço.
ResponderExcluirA primeira parte do conto é que acontecia antigamente, o final nem tanto...Eu acho. Rsrsrsrs
ResponderExcluirÉ verdade Maria Mineira, muito comum e costumeiro a tal prática, assegurada pela política de quem quem manda naquele tipo de sociedade, no entanto a Michele surpreendeu com o final já com gosto de sociedade moderna... coisa de autor, a surpresa é fundamental. Beleza Michele, um abraço.
ResponderExcluirPessoal, muito obrigada pelas palavras! Beijão
ResponderExcluirSou muito suspeita para falar dos seus causos, pois sou sua fã declarada. E que este é um daqueles contos vigaristas de primeira, disso você já sabe. Parabéns, Comadre, fiquei até com pena do marido abandonado (só faltou ele se afogar nas próprias lágrimas perguntando-se 'por quê', como o bígamo naufragado morreu gritando 'me deixe entrar!' Abraços!
ResponderExcluir