Queridos Leitores,
Este mês teremos aqui um pouco sobre
um pequeno grande trabalho. É o trabalho de Maria que se encantou por João e
agora se esforça para passar adiante um pouco do que dele aprendeu: amar a terra e
a vida, deles extrair contos e ensinar o valor do antigo às novas gerações.
Essa Maria arretada vive em Minas, na
Serra da Canastra, um lugar muito especial. Ela se define como “uma onça pensativa”. E eu diria que ela
é uma onça sim, corajosa, que aposta no presente e nas futuras gerações. Com
vocês, a louvável iniciativa Pequenos
Escritores da Canastra.
Trata-se ainda de um projeto pequeno
mas muito importante para o futuro do Brasil. Como eu já disse, é uma
iniciativa que vem sendo tocada lá na Canastra, Serras de São Roque de Minas, terra
boa dos Gerais e de João, autor do sertão lingüístico mais rico que já se
ouviu falar. E é mantida por Maria Mineira, que adora o João Guimarães e nele
encontrou inspiração para a vida, bem como aprendeu a valorizar a riqueza
popular de sua região. O pseudônimo é apenas para preservar sua família, que
não gosta de exposição. Passemos então aos efeitos de seu trabalho, o que é
mais importante mostrar.
Maria Mineira tem 47 anos,
dois filhos adolescentes, ambos herdaram da mãe o gosto pelos livros e, no sangue, um bichinho contador de
histórias, mas só em 2011 ela tomou coragem e começou a publicar alguns textos
seus. Criou uma escrivaninha no site Recanto das Letras sem grandes
expectativas, mas a recepção foi tão positiva que ela se sentiu motivada a
escrever e publicar cada vez mais, também a pôr em prática o antigo sonho de
lecionar, pois para isso havia voltado aos estudos. Maria Mineira não fala com
facilidade de si mesma. “Sou uma pessoa
tímida por natureza, sou sonhadora, bem humorada e amo os livros desde criança.
Sou apaixonada por Guimarães Rosa.” — ela me contou.
Contou também que no início de 2012,
quando conseguiu seu primeiro emprego na escola onde trabalha, ela não escolheu
o local onde queria trabalhar, estava no último ano de Letras e Literatura e
qualquer coisa estaria bom para começar, desde que fosse numa escola. Por
coincidência, lá estavam precisando de bibliotecária e professora para ‘A Hora
do Conto’. Ela ficou encantada, pois era exatamente o que sempre quis fazer. As
aulas de conto até então não tinham o formato atual, a duração era de apenas 30
minutos. Maria falou de seu projeto para a diretora da escola e esta lhe disse
que estava querendo algo novo, algo que motivasse mais os alunos a ler e
escrever. Maria solicitou que aumentasse o tempo das aulas de 30 para 50
minutos, a diretora atendeu prontamente e deu a ela carta branca para
trabalhar.
Maria mudou então o formato da aula.
“Ponho um tema em debate com cada turma
do fundamental 1 e cada semana discutimos um assunto.” — ela conta — “Assombração, animal de estimação, um
aniversário, um medo, uma alegria, uma saudade, o tema da terceira idade rendeu
textos incríveis! A turma do quinto
ano, que saiu do fundamental 1, ficou triste por sair do projeto. Eu não queria
deixá-los, mas não havia tempo na grade para encaixar aula de conto no
fundamental 2, aí pedi à diretora que deixasse que eles viessem à tarde, eu
arrumei uma horinha para eles. O mais incrível é que está vindo quase todo
mundo, mesmo não sendo obrigado. Faço esse trabalho por minha própria conta. É
que dá uma pena abandonar essa turma depois do trabalho que deu pra botar pra
escrever, e eu nem sinto o tempo passar. Eu uso um truque para que a aula fique
mais animada: se todos trazem os textos, eu conto histórias, e eles adoram
causos antigos de assombração, como aqueles que minha avó contava. E incentivo
também que eles procurem os avós e pesquisem causos antigos da nossa região.
Pena que eu tenha pouco tempo e habilidade para digitar, meus alunos têm
produzido muito. Vou corrigindo os errinhos mas nunca mudo as frases, não se
pode mexer na essência das histórias que as crianças escrevem. Também dou aula
para os pequeninos da educação infantil, conto historinhas para eles. Trabalho na escola o dia todo, eu amo o que faço. Além o serviço normal de
bibliotecária, dou as aulas de conto à tarde. De manhã leciono Literatura para
o ensino médio. Também conto histórias para esses alunos, eles pedem às vezes.
Eu sonho com um projeto de incentivo à leitura levado a sério e sendo
implantado além das Serras de São Roque de Minas, fiquei feliz com seu
interesse em divulgar.”
Maria trabalha na Cooperativa
Educacional de São Roque e além do Recanto das Letras, algumas de suas
histórias estão no Espaço do Produtor e no site Gândavos, outra louvável iniciativa sem fins
lucrativos que visa resgatar histórias da cultura popular.
Ao falar-me de seu trabalho com os Pequenos Escritores da Canastra, Maria
acabou omitindo muitos outros aspectos do seu trabalho. De outra fonte, eu
soube que:
“Maria é antenada com o presente, passado e futuro e, a meu ver, faz
essa ponte entre os três muito bem. O projeto ajuda a vivenciar o presente
ajudando a criar bons hábitos alimentares através das apresentações do palhaço
na Semana da Alimentação, por exemplo, trabalhando a linguagem oral através do
reconto de clássicos
infantis e tem olhos no futuro fazendo versos relacionados
com temas atuais, como Sustentabilidade, e divulgando-os na Rádio local; Maria
também participa da cooperativa de artesanato da Feira de Empreendedorismo da
escola, trabalha a terceira idade, etc.”
Perguntei então a Maria porque não me havia contado
toda a história, ao que ela respondeu: “Quanto
a falar muito do meu trabalho na escola, fico com medo de acharem que quero
aparecer às custas dos meus alunos. Fico sem saber o que fazer, pois aparecer
não é o meu objetivo, você sabe.
Pois é, Maria, ‘aparecer’ também não é o nosso
objetivo, e sim: MOSTRAR o que há de bom e merece ser conhecido nesse Brasilzão.
Alegramo-nos em poder divulgar o seu pequeno grande projeto aqui em nosso blog.
É uma honra! É de pequenino que se aprende a amar os livros, a valorizar as letras
e a cultura regional. Esperamos que outras pessoas possam reconhecer o valor
deste trabalho e que ele cresça e dê muito mais frutos, para Minas e para o
Brasil.
Nossos convidados de honra do mês de junho, queridos
leitores, são os PEQUENOS ESCRITORES DA CANASTRA. A cada semana teremos variados
textos deles para que vocês confiram, comentem e, quem sabe, ajudem a incentivar.
Helena
e Michele.
NOTA: esta postagem é o resumo de várias conversas que
eu, Helena Frenzel, tive com Maria Mineira via email e facebook.
Quem desejar entrar em contato com Maria Mineira e saber mais detalhes sobre seu lindo trabalho, pode fazê-lo por aqui:
Veja também a matéria Cooperativa Educacional Mineira é exemplo para o Brasil e conheça Leandro, um dos Pequenos Escritores.
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Bom dia, Helena. Conheço Maria Mineira e seus textos deliciosos do Recanto das Letras, e gostei de saber mais sobre seu trabalho e seus projetos. Achei a ideia de contos temáticos maravilhosa, e uma pena que não haja projetos assim em todas as escolas. Adorei o post!
ResponderExcluirÉ sempre um alento para o espírito saber que existem pessoas que se doam a um ideal e, muito além disso, multiplicam seu tempo para fazer desse ideal um instrumento para que outros menos favorecidos alcancem aquilo que lhes é de direito. Neste caso, a instrução, a cultura, o direito ao saber, o direito de ter meios para mais tarde "produzir" por conta própria esse conhecimento e cultura.
ResponderExcluirConheço outros projetos semelhantes, e faço festa sempre que leio sobre pessoas que mostram o gosto da leitura e da produção textual para crianças. Sempre tive para mim que o melhor jeito de se fazer gostar de ler é, justamente, ensinando a gostar de escrever. E é de criança que se faz isso. E meu Deus, os contos e causos são os mais apaixonantes para esse intento.
Aplausos para a Maria e, claro, para você também, Helena. Todo esforço nesse sentido deve ser divulgado e apoiado. Ando um tanto afastado das redes sociais, mas se possível, gostaria de divulgar também, de alguma forma, o que você deixar por aqui. Será um orgulho poder ajudar de algum jeito.
Abraços.
Obrigada pelo apoio! Estou sem palavras para dizer o quanto sua ajuda está sendo importante para esse projeto. Voltarei mais vezes!
ResponderExcluirA Maria merece esta homenagem e muito mais, pela dedicação, com amor e desprendimento, não só ao nobre ofício de ensinar, mas, sobretudo, ao despertar nos petizes o gosto pela leitura e escrita. A ela dediquei um texto e ardentemente desejo que a história criada venha a se transformar em realidade. Impossível não é. A Maria trabalha duro para isso. uhttp://www.recantodasletras.com.br/contos/3660604
ResponderExcluirE nesses momentos as palavras correm como num regato num caminho reto na montanha aonde somente se houve o canto dos pássaros, o borbulhar da água cristalina e a felicidade do que se vê na retina! Parabéns!
ResponderExcluirVenho conhecendo Maria Mineira aos poucos, através de seus textos que tenho acompanhado, como parceira que somos no blog Gandavos e nos livros da série Gandavos e muito recentemente, por conversas via web, e já admirava pelo talento e principalmente pelo compromisso dela de preservar as nossas origens mineiras, a nossa cultura, sempre com muito carinho.Entretanto, ao ler essa entrevista, deparo-me aqui com mais essa grata surpresa de descobrir muito mais qualidades nela, do que eu pudesse supor e que a torna ainda mais encantadora. Trabalho lindo! Parabéns Maria! Parabéns Helena e Michele, pela iniciativa de divulgar o que há de bom e saudável por esse mundo afora.
ResponderExcluirUm grande abraço para todas vocês.
Celêdian