O segundo projeto que gostaria de apresentar, fechando
as publicações juninas aqui no Blog, é o projeto Gândavos – Contadores de Histórias.
Através de uma entrevista que
fiz com Carlos A. Lopes, idealizador
e coordenador da empreitada, espero fornecer uma visão geral do projeto e, o
que é melhor: despertar o interesse e a vontade de participar.
Saudações letripulistas e vamos à entrevista:
Carlos A. Lopes e seus dois primeiros 'filhos': Gandavos - Os Contadores de Histórias e Gandavos - Contando Outras Histórias. Foto de acervo privado, aqui usada com permissão.
P - Converso aqui com Carlos A. Lopes, organizador do Blog
Gandavos - Contadores de Histórias, um projeto que chamou minha atenção
pela proposta de incentivo à leitura e à escrita, bem como pelo efeito de
contribuir para registrar a memória popular de vários cantos do país. Diga lá,
amigo Carlos, como surgiu o Gândavos?
R – Gândavos é um passado
resgatado no presente, noutro formato. Cresci numa cidadezinha, na região
Moxotó de Pernambuco. Lá não existia banca de revistas, bibliotecas, ou sequer
sinal de televisão e de entretenimento, só havia mesmo os bailes no clube e o
cinema do meu pai, do qual, com apenas doze anos de idade, eu já era
projecionista. Foi nesse ambiente simplório que um grupo de jovens criou um
grupo de teatro, cujo objetivo era adquirir cultura e oferecer diversão para
aquela gente que só sabia do mundo através das ondas de rádio. A origem do
Grupo Teatral Os Gândavos se deu no final de 1974, a partir de uma apresentação
de uma peça extraída de um cordel. O nome do Grupo foi descoberto meramente por
acaso. Em uma das suas viagens psicodélicas pelas páginas do “pai dos
burros”, dicionário cujas letras eram minúsculas, fez com que um dos membros do
grupo lesse gândavos em vez de gandavos.
Prevaleceu a palavra gândavos,
por sua eufonia em relação ao hino, que se cantava antes do início das
apresentações. Passados os arroubos da juventude, resgatamos atualmente o mesmo
nome para um ambiente de rede mundial, não só para agrupar velhos amigos, mas
também para compor um rol agradável com as pessoas de outras regiões que gostam
de nostalgia e de contar novas histórias.
P - Quem faz parte?
R – Fazem parte do Blog
Gândavos, autores das mais diversas regiões do país e também alguns que residem
fora do Brasil. A ideia era essa mesma, misturar culturas e formar um grupo que
interagisse sem necessariamente se conhecer fisicamente e evidentemente agregar
também aqueles que já se conhecem. E para formar esse grupo careceu de apostar
num trabalho lento e progressivo. O Blog
tem como foco os contos, no entanto publico crônicas e até poesias, não tenho
preconceito com gêneros. O começo não foi fácil, eu fazia de tudo para
encontrar gente de talento e que pudesse contribuir na segunda etapa do Projeto
– as publicações. Nessa primeira fase, temos muitas histórias, afinal foi muito
estranho para alguns autores encontrar em suas caixas de mensagens apelos por
liberação de textos, vindas de um nordestino de pouca prática na escrita. Fui
salvo até pela avó do escritor Gilberto Dantas, que por ser nordestina, o autor
se sensibilizou e até hoje está conosco. Enfim, depois de umas tantas adesões o
trabalho foi merecedor de outro tratamento e ganhou respeito em nível nacional.
Hoje quando convido alguém para participar, muitas vezes escuto: ¨Rapaz, como
você conseguiu tanta gente de talento no seu Blog?¨ A resposta é sempre a mesma: ¨Respeito e
confiança, só isso!¨ Enfim, fazem parte
do Blog Gândavos hoje, autores famosos ou não, também pessoas iniciando na vida
literária, com textos confessionais ou reminiscências próprias, bem comuns em
início da carreira. Sempre digo que a melhor maneira de mostrar nossos
trabalhos de início, é se agrupando com quem já tem uma bagagem literária
avantajada. Uma coisa é certa, os autores com trabalhos já consagrados que
fazem parte do Blog jamais demonstraram constrangimento em figurar junto aos
iniciantes, o que é muito louvável da parte deles. Só tenho que agradecer a
toda essa gente bonita e talentosa desse Brasil de meu Deus!
P - Esse projeto já gerou a impressão de dois livros e sei que um
terceiro volume está a caminho. Conte um pouco dessa experiência de publicação
independente. Como tem sido a recepção?
R – Até sair do meu interior, Custódia,
ouvia dizer que empurrar bêbados ladeira abaixo era a coisa mais fácil do
mundo, é não! A coisa mais fácil do mundo é publicar livros, desde que o
sujeito não fique correndo atrás de editora que os promova, ou de
patrocinadores, basta se agrupar. Uso a seguinte premissa: Somos seres sociais!
As ferramentas estão aí, basta usá-las. Dizem que a internet é perigosa, é
nada! Os carros não foram feitos para matar, no entanto matam. Tudo na vida é
uma questão de saber se posicionar. Como
disse antes, o trabalho do Blog é moldado dentro dos preceitos de respeito e
confiança. Quando envio a seguinte mensagem aos autores: “Amigos, é chegada a
hora de depositarem o dinheiro correspondente a suas opções de compra”, todos
depositam o dinheiro rapidamente. Excelente nosso grupo! Nesse Projeto do
terceiro livro tipo coletânea, que a amiga citou, está por acontecer, a procura
foi maior que o espaço físico disponibilizado. Cinco autores que costumam
publicar seis textos, gentilmente concordaram em reduzir suas publicações no
próximo volume, para que autores iniciantes pudessem participar. Há muita
compreensão nesse sentido. Temos bem definidos três tipos de autores
participantes dos livros. Uma grande parte adquire poucos exemplares e
distribui com familiares e amigos; outro grupo pede mais livros e revendem, são
autores que geralmente já publicaram livros antes. Por último, temos um grupo
que vende uma parte da sua opção de compra para cobrir as despesas e o restante
distribui com amigos e familiares. E para alguém não dizer que estou a dizer
asneira quando digo que publicar é fácil, lhes digo: Publicamos dois livros em
poucos meses; evidente que a partir do quarto livro, vamos publicar
espaçadamente e considerar outras possibilidades.
P - Dificuldades? Quais têm sido as maiores?
R – Dificuldade para mim, são
aqueles obstáculos que não estão previstos num empreendimento. Para se publicar
um livro há etapas a serem ultrapassadas, as quais não chamo propriamente de
dificuldades, pois elas estão em qualquer lugar onde se publica livros. Porém,
para não dar a entender que tudo é lindo e maravilhoso, citarei uma dificuldade
que me tira o sono: o envio dos livros aos autores quando os recebo da editora.
A única forma de enviar livro de forma compensatória financeiramente para os
autores, são os chamados impressos, os quais são relegados às piores condições
de entrega ao destinatário. Isso para não dizer que também tenho que afixar nos
pacotes: “Os Correios estão autorizados a abrir esta embalagem”. Quanto
maior o volume, maior é a demora, que se multiplica no serviço de entrega.
P - Pelo que entendi, o Gândavos é uma iniciativa que visa, sobretudo, a
divulgação dos textos e autores, com o propósito não de vender livros, mas de fazer
as histórias chegarem ao leitor. Como você vê a possibilidade de distribuição
via E-Livro? Estaria disposto a ver também os volumes da Gândavos nesse formato
à disposição do leitor?
R - Quando resolvi sair do meu interior, minha mãe disse: ¨Meu filho, se
você tem um emprego disponível aqui, porque ir para o Recife e ficar distante
de nós?¨ Respondi: ¨Mamãe, gosto do novo, do moderno¨. Acrescentei: ¨Se
quero encomendar uma roupa, tenho que escolher os botões que a venda de Seu
Domingos dispõe, não os que queria utilizar no modelo¨. Enfim, gosto do
novo e amo meu passado! Não vivo sem os dois! Respondendo objetivamente a sua
pergunta: sou a favor de que num futuro próximo as nossas publicações possam
ser vinculadas noutro formato, no caso o livro digital. Porém, entendo que
neste momento o foco do Blog Gândavos é fazer o processo inverso: fazer
publicações de livros físicos a partir de textos ora hospedados nas páginas
virtuais em rede mundial.
Muito obrigada,
Carlos A. Lopes, por seu tempo e disposição em responder estas perguntinhas.
Helena Frenzel.
Link: gandavos.blogspot.com
P.S.: não sou nem pretendo atuar como jornalista. O objetivo das 'entrevistas' foi conhecer (e dar a conhecer) melhor os respectivos projetos e contribuir na divulgação (Helena Frenzel).
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