sábado, 27 de abril de 2013

Retorno




Manhã cedinho. Céu azul, sol brilhando, mar verde e convidativo. Ela foi entrando mar a dentro enquanto pensava na vida.
As desilusões acumulavam-se. Nada dera certo ao longo do ano. Pessoas especiais haviam partido desta vida, deixando um enorme vazio. Outro alguém também havia partido, este para um outro endereço, abandonando-a com seus sonhos e planos. O emprego era medíocre, não se sentia feliz nem realizada com as tarefas que executava. Enfim, desastre total. Seu coração sangrava, sua alma era um desânimo só.
E o mar ondulante, verde, a chamá-la. Quase podia ouvir um canto de sereia, fosse ela um pescador, não teria resistido. Enquanto refletia, avançava a grandes braçadas. A praia, deserta. Não havia ninguém para vê-la, para ser testemunha, para salvá-la. Seria tão fácil, pensou. Bastava deixar-se levar pelas macias e refrescantes águas, e rapidamente tudo estaria acabado: tristezas, sonhos, fadiga.
Foi então que a magnífica beleza da paisagem chamou-a de volta. O brilho do sol, o azul do céu, a frescura verde do mar, a morna areia que a esperava na praia, os coqueiros. O instinto fê-la nadar de volta, com enorme e exaustivo esforço.
Continuava a pensar na vida, mas mudara o foco. Quanto aos que se foram para o outro plano, nada podia fazer a não ser sentir saudade. Mas estava em suas mãos mudar de emprego, buscando algo que a fizesse feliz e realizada, ainda que a um salário menor. Poderia também sair à procura de um novo amor, por que não? Ou apenas deixar-se encontrar por outro.
E aquele exercício extenuante de nadar de volta à praia, estranhamente deu-lhe forças. Corpo cansado, largado na areia morna, alma revigorada, resolveu sair ao encalce da própria vida.



Muito obrigada, Lucia, por participar mais uma vez deste nosso canto para contos, causos e coisas do tipo. Volte sempre!



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2 comentários:

  1. Querida Lúcia, esse exercício extenuante de nadar de volta à praia é o que fazemos nós, amantes das belas letras, todos os dias. Largar o corpo cansado na areia morna: não há coisa igual. Pra frente! Bela narrativa.

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  2. Quem dera sempre nos lançassemos de volta às nossas origens, ao nosso amor próprio e retornar com força ao futuro. Belíssimo conto Lu. Amei!

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