sexta-feira, 12 de abril de 2013

O QUARTO ESCURO




A primeira lembrança? O som da porta que se fechou. Eu estava sozinho num quarto pouco iluminado. Nenhuma mobília, além de um pequeno banco. O ar circulava por uma fresta, na minúscula janela quase colada ao teto. Tive medo de sufocar. Porta trancada, sem chaves. Lá fora tudo era silêncio. Não adiantaria continuar gritando por ajuda. Não sei quanto tempo esperei, andando em círculos, até que o susto cortou minha angústia. Começava a escorrer água pela parede. Antes de tocar o chão, toda aquela água vertida transformava-se no som das palavras. Para meu completo assombro, era o som da minha própria voz. Por um brevíssimo momento, diante do absurdo, tive vontade de rir. As palavras haviam me sequestrado. E me prenderam ali para uma espécie de prestação de contas por tudo que calara ao longo da vida. Não sobrou um só segredo represado. A água virara palavra. E todas as minhas verdades escorreram pela parede. Ouvi o lamento dos sonhos que não realizei. Depois veio a ira de desejos frustrados e a ladainha do ressentimento. Confrontado por todos os meus fracassos, não passava de um rascunho mal feito. Eu era uma fraude de mim mesmo. E, dessa vez, não haveria mais como fugir.



Muito obrigada, Dolce, por participar outra vez com seus interessantes minis aqui em nosso blog. Volte sempre!

Helena e Michele.


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2 comentários:

  1. Quanta reflexão teu conto nos traz, Dolce! Vivenciei a situação... rsrs! Grande abraço, guria.

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    1. Obrigada, Giustina, por sua presença também aqui. Volte sempre!

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