sexta-feira, 1 de março de 2013

Fazendo Ioga



suzanabarbi@hotmail.com

Equilibrar a energia do corpo com a energia da mente.
Era tudo que ela precisava.
Aquela história de ficar horas em frente ao computador, pendurada no telefone e sempre correndo como uma biruta maluca, para cumprir os prazos da vida, não estava funcionando mais para ela.
Precisava fazer alguma coisa.
Descobriu o caminho quando encontrou com o gordinho do escritório na cantina, claro, e ele lhe confessou:
— Minha mulher reclamou a vida inteira do meu ronco. Resolvi fazer Ioga. Depois disso, descobri que tenho nariz!

Foi direto para o Google pesquisar sobre o assunto.
“Pessoas que sofrem de dores crônicas apresentam melhoras e necessitam de menos remédios analgésicos à medida que praticam a Ioga”.
Estava fechado!
Com a Ioga sua dor na coluna iria pro saco.
No dia seguinte, matriculou-se na dita cuja.

De roupa apropriada, especialmente comprada, lá foi ela para sua aula inaugural.
Mais quatro pessoas faziam parte do seleto grupo, que aprenderia respirar, ter postura e mandar as dores pras cucuias.
Assentada com as pernas cruzadas em posição de lótus, ela iniciou o processo do “innnnsssspiiiiraaaaa”.... “exxxxppppiiiiiraaaaa”.....
Nos dois primeiros “inspira-expira” a posição de lótus já parecia posição de cactus.
Sua coluna começou a arder.
Abriu os olhos, olhou para os lados, viu todos compenetrados na respiração e pensou:
— O inferno é mais suave...
Hora de deitar e relaxar.
Ufa! De volta ao paraíso!

Uma música calma inundou (junto com o incenso) o ambiente.
— Agora vamos relaxar. — O professor dizia com voz baixa.
— Tentem relaxar a cabeça, movendo-a para os lados, bem devagar. Agora, os ombros, os braços, as mãos, o tronco, as pernas.
Ela foi ficando dormente.
E com sono.
— Concentrem-se, agora, no couro cabeludo.
Couro cabeludo?
Como é que vou concentrar no meu couro cabeludo?
— Inspirem bem devagar e expirem, relaxando os pulmões.
O sono voltou.
— Relaxem o coração, o estômago, o pâncreas...
Pâncreas?
Onde é que fica isso?
Ela abre apenas um olho e olha sorrateira para seu colega ao lado.
Precisava saber se ele conseguia “relaxar o pâncreas”.
Ele dormia profundamente com a boca aberta, sem a menor noção de ter ou não ter pâncreas.

No segundo dia, achou o professor tenso.
Estranho para pessoa que lhe parecia tão calma.
Entraram novamente em relaxamento e, devidamente conhecedora de onde se encontrava seu pâncreas, inspirou e expirou em paz.
Não demorou muito a escutar o primeiro ronco.
Saiu bruscamente do seu estado de quase dormência com o grito do professor:
— Por favor, tentem se manter acordados, porra!!!
O professor também tinha lá seus problemas...

No terceiro dia, conheceram “a invertida”.
Posição em que as pernas ficam no lugar onde a cabeça deveria estar.
— Muita concentração, — pedia o professor. — Deixem o pensamento passar como nuvens. Não se prendam a ele.
Suspensa apenas pelas mãos, ela pensou nos pagamentos que tinha para fazer no dia.
Caiu de cara no chão.
Chamaram o SAMU.
Ela foi com as dívidas e com o ombro deslocado para o Pronto Socorro.

Não desanimou.
Voltou.
Para o júbilo de todos, inclusive do professor.
Ao tentar fazer novamente “a invertida”, chutou a cara de um e caiu com os dois pés em cima de lugar “bem sensível”, digamos assim, do colega ao lado, que perdeu o fôlego, ficou roxo e por fim gritou cinco minutos seguidos.
O professor perdeu a calma, pegou-a pelo braço e gritou:
— Você já rezou hoje???

Saiu dali arrasada.
Entrou num bar e pediu um cavalinho.
Acabou tomando o haras inteiro.

Ioga, para ela, não era tão suave como parecia.
Ia tentar o alpinismo.


Nota da autora: uma homenagem às minhas queridas sobrinhas, Luciana e Júlia.




Querida Suzana, gratas por sua bem-humorada participação em nosso blog. É uma alegria ter você aqui, volte sempre!

Helena e Michele.




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Um comentário:

  1. Suzana, que saudade da sua verve cômica! Um super beijo a você e à Helena, que te cedeu este espaço pra nosso deleite.

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