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Por Helena Frenzel
(Estória Infantil)
Para Ulisses, da tia.
João gostava tanto de bichinhos que um dia pediu à sua
mãe: “Mamãe, posso ter um coelhinho?”
“Claro, João”, ela respondeu, “mas você deve cuidar
dele do mesmo jeito que eu cuido de você”.
“Como assim? Tenho que contar estórias para ele
dormir?”, perguntou o menino.
“Quase isso”, disse a mamãe. “Você tem que lhe dar
água e comida todos os dias e limpar o cercado em que ele vai dormir.”
“Ah, isso é fácil!”, disse Joãozinho.
“Deve lhe dar comida duas vezes ao dia, de manhã bem
cedo e à tarde.”, disse a mamãe.
“Duas vezes?!”, perguntou João, surpreso.
“Isso! E de manhã bem cedo, antes de tomarmos café da
manhã”.
“Mas eu gosto de dormir até tarde...”
“Eu sei, meu filho, mas com o coelhinho você tem de
levantar cedo e dar-lhe o café da manhã.”, disse a mamãe.
“Mas ele pode comer mais tarde, não pode?”, João quis
saber.
“Pode, querido”, ela falou, “mas ele acorda cedo com o
estômago já roncando. E o que você faz quando você acorda com fome?”
“Eu acordo você, que é a minha mamãe!”, disse João
balançando os ombrinhos.
“Pois você vai ser ‘a mamãe’ do seu bichinho e terá de cuidar dele todos os dias, senão
ele chora. E então? Ainda quer ter um coelho?”, a mamãe perguntou.
“Quero! Quero! Quero! Quero!”, disse João muito
alegre.
“Está bem, então vou falar com o seu pai.”
No dia do seu aniversário, João era só sorrisos por
causa do presente ganho do papai: dois coelhinhos lindos, brancos, os dois numa
gaiola. E no quintal, num canto do muro, um cercado que o pai havia montado;
era o lugar onde seus coelhinhos iriam morar.
“Oba, pedi um e ganhei dois!”, João exultava.
“E não era um coelho só?”, perguntou a mamãe ao papai
de João.
“Estavam em promoção: um eu paguei e o outro eu ganhei”,
disse o papai.
“Ã-hã...”, ela falou.
Nos dias seguintes, João cuidou dos coelhinhos como
lhe havia ensinado a mamãe. Eles comiam muito alface, grama e cenoura. Quando
João e sua mãe voltavam de passeios pelo bosque, sempre traziam uns gravetos
com folhas para eles brincarem.
Porém, um dia a preguiça veio e jogou sua capa preta
na cabeça do João. Simplesmente ele não conseguia mais acordar cedo e a mamãe
lhe falava: “Se você não cuidar de seus coelhos eles vão partir.” “Está bem,
mamãe, amanhã eu cuido”, respondia João sem crer no que ela lhe dizia.
Um dia, contudo, João lembrou de seus coelhinhos.
Correu para o quintal e ao chegar ao cercado, assustado, parou. Olhou em volta
e não vendo os coelhos, voltou correndo para a cozinha e perguntou à mãe:
“Mamãe, onde estão os meus coelhos?”
“No cercado.”, ela respondeu.
“Lá não estão!”, disse ele.
“Como não?!”, disse a mamãe, surpresa, e foi até o
cercado olhar. Era verdade. O cercado estava vazio. O que teria acontecido com
os coelhinhos do João?, perguntava-se.
“Quero meus coelhinhos”, chorava João, “alguém
roubou!”.
“Calma, João, quem roubaria os seus coelhinhos?”,
perguntou-lhe a mamãe.
“Veridiana, aquela invejosa! No dia do meu aniversário
ela disse que queria todos os meus presentes, até os meus coelhos”, contou
João.
“Ela estava só brincando, Joãozinho”, disse a mamãe,
“e além do mais, sua prima Veridiana e todos os seus primos moram muito longe e
nunca mais vieram nos visitar depois do seu aniversário.”
“Quero meus coelhos!”, chorava João.
“Eu não disse que se você não cuidasse deles eles
iriam embora?”
“Mas eu cuidei...”.
“Deu água e comida todos os dias?”
“Dei. Só naquele dia que eu não levantei cedo.”
“E ontem? E antes de ontem? Hoje também não, não é
mesmo?”, lembrou-lhe a mamãe.
“Quero meus coelhos!”, era tudo o que João sabia
dizer.
Enquanto João chorava, a mãe examinou o cercado e
descobriu num canto do muro um buraco cavado no chão. Como coelhos adoram
cavar, ela olhou pelo buraco mas não conseguiu ver o fundo. “Vai ver eles
partiram por conta própria, meu filho, foram buscar o que comer.”, ela falou.
“Se eles voltarem, eu nunca mais esqueço de dar comida
para eles, mamãe.”, disse João, soluçando muito.
Daí a mamãe teve a idéia de enfiar uma mangueira de
jardim no buraco para ver até onde ela chegava. “João, pare de chorar e me
ajude!”, ela pediu.
Eles foram até a garagem e voltaram com um rolo de
mangueira enorme. A mãe pegou a ponta e começou a enfiar no buraco. João
ajudava a desenrolar. Foi empurrando, empurrando até que a ponta pareceu topar
com algo, então ela achou melhor puxar a mangueira de volta.
Quando a mangueira já estava toda de volta, surpresa: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove,
dez! coelhinhos saíram do túnel também — dois grandes e oito bem pequeninos, todos
branquinhos, todos bebês.
“Mamãe! Mamãe! Agora eu tenho dez, dez coelhinhos ao
invés de dois!”, saltitava João, sorrindo.
Ai, e o que vamos fazer com tantos coelhos?!
—
pensou
a mamãe.
Por não poderem cuidar dos dez ao mesmo tempo, João
concordou em ficar com apenas quatro, “todos fêmeas”: disse o Veterinário,
médico que cuida dos animais. João doou um coelhinho para cada um dos seus quatro
priminhos e a prima Veridiana, muito contente, ficou com dois, ambos machos.
João também passou a dividir o trabalho com a mamãe: ele cuidava dos coelhos
pela tarde e ela cuidava deles pela manhã. Taparam todos os buracos no quintal
e os coelhos do João não mais sumiram outra vez.
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Parabéns Helena, pela habilidade de escrever um conto infantil, com graça, originalidade e sem subestimar a capacidade de compreensão das crianças.
ResponderExcluirUm abraço
Celêdian
Obrigada, Celêdian, pela leitura e comentário detalhado. É mais fácil escrever para adultos, pois como algum cronista já falou, mais ou menos ( Rubem Alves, se não me engano): é muito difícil para o adulto 'subir' ao 'altíssimo nível' das crianças, por isso muitos as subestimam, só para se protegerem de reconhecer o quanto regrediram ao crescer. Um abraço fraterno, volto a visitá-la em breve, se Deus permitir.
ExcluirParabéns Helena! Adorei o conto e estou imprimindo para ler para o Ulisses! Ele adora bichos e com certeza vai gostar da historinha. Ah, sim!!! Tomara que depois ele não me peça coelhos...hahahahha Ficou lindo demais! As crianças tem um poder de entendimento fantástico, basta nós, mães, sabermos nos fazer entender. Com amor e carinho, tão bem demonstrados no textos. beijão e obrigada!!!
ResponderExcluirFoi um prazer! Obrigada você também por me permitir participar da vida de vocês. Abraço carinhoso, fui!
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