Por Michele Calliari Marchese
O Causo do Romeu
Sempre se
fala de causo de cemitério e todas essas coisas relacionadas com os mortos.
Acontece que ninguém dá muito crédito para essas histórias, mas elas são
verídicas porque foram contadas para os filhos e aos filhos dos filhos.
Esses causos
aconteceram um de cada vez em intervalos de alguns anos, e é por isso que não
se deve ir ao cemitério sozinho de noite ou de dia, ou com a cabeça já cheia de
medo e pensando bobagem quando se entra lá.
O terceiro
causo aconteceu com o Romeu.
O Romeu era
homem muito temente a Deus e deveras alto. Devia medir uns bons dois metros de
altura e todo mundo enxergava ele, onde quer que fosse.
Já contava
com 50 anos de idade e começou a ficar preocupado porque não tinha ainda
terreno no cemitério para fazer a tumba da família. Falou com as autoridades
competentes no assunto, e acabou comprando por um preço baratinho do coveiro um
belíssimo pedaço de terra, na segunda esquina com a Cruz Mestra. Levou toda a
família lá para ver o investimento.
Contratou um
pedreiro para fazer o esquife da família e deixou claro o tamanho do féretro
para que não houvesse problemas na hora de enterrá- lo, já que era alto.
Dali dois
meses o serviço ficou pronto e o Romeu, antes de pagar o pedreiro, quis
conferir se a coisa tinha ficado boa e comprida. Como ele morava no Peral,
mesmo a cavalo demorava muito para chegar ao cemitério, e só valia a pena se
tinha alguma coisa para fazer na cidade, pois teria que passar o dia lá e só
voltar no dia seguinte para casa.
Como ele
tinha um filho nascido três meses atrás para registrar no tabelião aproveitou a
viagem e foi verificar se a cripta estava pronta.
Chegando lá no cemitério,
Romeu duvidou do tamanho e resolveu entrar para ver se cabia lá dentro, só que,
por um acontecimento misterioso ele infartou fulminantemente dentro da
sepultura.
Acontece que
a viúva só foi dar pela falta do Romeu uma semana depois do ocorrido e chamou
os vizinhos para que fossem à Campina procurar pelo marido. E disse que ele ia
ao tabelião e depois ao cemitério, mas que fossem procurar também na casa da
Dona Isabelita, já que ele tinha pendões para os rabos de saia alheios.
Os vizinhos
não tiveram que procurar muito, pois foram por primeiro no cemitério e lá
encontraram o dito cujo morto, duro e numa posição de joelhos dobrados e
poupança para cima que seria difícil a remoção do corpo.
Demorou mais
uns três dias até que a viúva chegou para resolver o impasse. Mandou que
cortassem as calças do falecido para tirar o que tivesse nos bolsos e mandou
fechar. Assim. Sem mais nem menos, sem velório, sem extrema unção, sem nem
mesmo uma vela acesa.
O padre
Dilso bem que tentou fazer uma oração, mas a viúva foi embora dali registrar o
filho no tabelião e ninguém mais viu ela.
Quem chora
no caixão do morto em dias de Finados é a Dona Isabelita.
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